Vinte e três activistas detidos na província angolana de Benguela, no passado sábado, 3, por alegado desacato à autoridade, estão em greve de fome para exigir a presença do comandante da Polícia Nacional (PNA), que alegadamente mandou detê-los quando realizavam uma manifestação contra o que consideram caos nos hospitais.
Em causa, a falta de medicamentos e de atendimento médico, bem como as várias mortes ocorridas na província.
As divergências foram visíveis ainda antes das detenções, com o activista Hermógenes Tenete, um dos encarcerados, a criticar a postura da Polícia Nacional.
"A Polícia está a nos obrigar a seguir este trajecto, mas não é isso. O nosso manifesto é contra as mortes nos hospitais, exigimos assistência médica e medicamentosa”, salienta.
Nesta segunda-feira, 5, enquanto aguardava pelo parecer do Ministério Público, que poderia passar por julgamento sumário dos detidos, o activista Emerson Marcos explicou que a greve de fome que os os colegas observam visa forçar um diálogo com o comandante municipal da Polícia.
"Desde que chegaram não comeram nada, estão em greve de fome a exigir a presença do comandante municipal (Filipe Cachota) que mandou prendê-los, não se aceita. Eles falam sempre em desacato mas se a manifestação já tinha acabado não deviam prender o motorista”, sustenta Emerson, acrescentando que “os manifestantes decidiram também que tinham de ser detidos”.
Em reacção, o porta-voz do Comando Provincial da Polícia Nacional, Ernesto Chiwale, refere que a apreensão da viatura, na base da agitação que levou às celas os 23 cidadãos, resulta de uma transgressão rodoviária.
"Na manifestação acabamos por verificar que a viatura de apoio pertence ao partido UNITA, o motorista levava pessoas na carroçaria, é uma transgressão que mereceu o nosso aviso. Depois... um grupo de pessoas surgiu, com insultos, a impedir o nosso trabalho, havendo dois mordidos pelos canídeos”, conta o porta-voz.
As declarações deste inspector-chefe, resumidas em comunicado de imprensa, não foram bem recebidas pelo deputado Adriano Sapiñala, secretário provincial da UNITA, que fez saber, em declarações à Rádio Ecclésia, que o seu partido cedeu a viatura movido por uma causa justa.
“Dá sinais claros de que o problema não é a manifestação, é o nome UNITA. Isto me preocupa porque assim já é perseguição, mas não somos adversários da Polícia”, aponta aquele responsável.