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Autoridades brasileiras investigam a causa do acidente de avião que matou 62 pessoas


Acidente de avião no Brasil
Acidente de avião no Brasil

O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, disse aos jornalistas na sexta-feira, em Vinhedo, que a caixa preta do avião foi recuperada, aparentemente em estado preservado.

As autoridades brasileiras trabalham no sábado, 10, para descobrir o que exatamente causou o acidente de avião no estado de São Paulo no dia anterior, que matou todas as 62 pessoas a bordo.

O avião da companhia aérea local Voepass, um bimotor turboélice ATR 72, dirigia-se para o aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, com 58 passageiros e quatro tripulantes, quando caiu na cidade de Vinhedo.

Inicialmente, a companhia informou que o avião tinha 62 passageiros, depois reviu o número para 61 e, na madrugada de sábado, voltou a aumentar o número depois de constatar que um passageiro chamado Constantino Thé Maia não constava da lista original.

Imagens registadas por testemunhas mostraram o avião a girar e a mergulhar verticalmente antes de se despenhar no chão dentro de um condomínio fechado, deixando uma fuselagem obliterada e consumida pelo fogo. Os moradores disseram que não houve feridos em terra.

A chuva caiu sobre as equipas de salvamento enquanto recuperavam os primeiros corpos do local, sob o frio do inverno do Hemisfério Sul. Alguns residentes do condomínio saíram silenciosamente para passar a noite noutro local.

Na sexta-feira, o centro meteorológico da rede de televisão brasileira Globo disse que "confirmou a possibilidade de formação de gelo na região de Vinhedo", e a imprensa local citou especialistas que apontam o gelo como causa potencial do acidente.

Um ATR 72-200 da American Eagle despenhou-se a 31 de outubro de 1994 e a Comissão Nacional de Segurança dos Transportes dos Estados Unidos determinou que a causa provável foi a formação de gelo enquanto o avião fazia um circuito de espera. O avião rolou a cerca de 2.400 metros e mergulhou no solo, matando todas as 68 pessoas a bordo. A Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos emitiu procedimentos operacionais para os ATRs e aviões similares, dizendo aos pilotos para não usarem o piloto automático em condições de gelo.

Mas o especialista brasileiro em aviação, Lito Sousa, advertiu que as condições meteorológicas, por si só, podem não ser suficientes para explicar por que o avião caiu da maneira que caiu na sexta-feira.

"Analisar um acidente aéreo apenas com imagens pode levar a conclusões erradas sobre as causas", disse Sousa à AP por telefone. "Mas podemos ver um avião com perda de sustentação, sem velocidade horizontal. Nesta condição de rotação plana, não há forma de recuperar o controlo do avião".

O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, disse aos jornalistas na sexta-feira, em Vinhedo, que a caixa preta do avião foi recuperada, aparentemente em estado preservado.

Marcelo Moura, diretor de operações da Voepass, disse aos jornalistas na noite de sexta-feira, que, embora houvesse previsões de gelo, elas estavam dentro dos níveis aceitáveis para a aeronave.

Da mesma forma, o tenente-coronel Carlos Henrique Baldi, do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos da Força Aérea Brasileira, disse aos repórteres que ainda era muito cedo para confirmar se o gelo causou o acidente.

O avião é "certificado em vários países para voar em condições severas de formação de gelo, inclusive em países como o nosso, onde o impacto do gelo é mais significativo", disse Baldi, que chefia a divisão de investigação do centro.

Numa declaração anterior, o centro disse que os pilotos do avião não pediram ajuda nem disseram que estavam a operar em condições meteorológicas adversas. Também não há evidências de que os pilotos tenham tentado contactar os controladores dos aeroportos regionais, disse o ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, a jornalistas na noite de sexta-feira em Vinhedo.

A Polícia Federal do Brasil iniciou sua própria investigação e enviou especialistas em acidentes aéreos e na identificação de vítimas de desastres, informou em nota.

O governo do estado de São Paulo informou, na manhã de sábado, que 21 corpos foram retirados do local, e dois já foram identificados. Maycon Cristo, porta-voz do Corpo de Bombeiros local, disse aos jornalistas que um guincho está a ser utilizado para retirar do solo partes da carcaça do avião.

"Quando vemos um possível corpo no meio da destruição do avião, as equipas de salvamento entram em ação. Depois tiram fotografias, recolhem o máximo de provas da vítima para que a identificação seja a mais exacta possível", disse Cristo.

O fabricante franco-italiano de aviões ATR disse, num comunicado, que tinha sido informado de que o acidente envolvia o seu modelo ATR 72-500 e que os especialistas da empresa estavam "totalmente empenhados em apoiar tanto a investigação como o cliente".

O ATR 72 é geralmente utilizado em voos mais curtos. Os aviões são construídos por uma empresa comum da Airbus em França e da Leonardo S.p.A. de Itália.

Os acidentes envolvendo vários modelos do ATR 72 resultaram em 470 mortes desde a década de 1990, de acordo com uma base de dados da Aviation Safety Network.

As autoridades brasileiras começaram a transferir os cadáveres para a morgue na sexta-feira e apelaram aos familiares das vítimas para trazerem exames médicos, radiológicos e dentários que ajudem a identificar os corpos. Também foram feitos exames de sangue para ajudar nos esforços de identificação.

Costa Filho, o ministro dos aeroportos, disse que o centro da força aérea também conduzirá uma investigação criminal sobre o acidente.

"Vamos investigar para que esse caso seja totalmente esclarecido ao povo brasileiro", disse Filho.

Este foi o acidente aéreo mais mortífero do mundo desde janeiro de 2023, quando 72 pessoas morreram a bordo de um avião da Yeti Airlines, no Nepal, que se imobilizou e se despenhou durante a aterragem. Esse avião também era um ATR 72 e o relatório final atribuiu a culpa a um erro do piloto.

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