Um conhecido soba da província de Benguela reconhece que as autoridades tradicionais funcionam em obediência ao MPLA, partido no poder em Angola, dando consistência a críticas relativas à violação de um regime jurídico que determina independência do poder político.
Afonso Rodrigues ‘’Sucumula’’, que falava para jovens, dirigentes políticos e membros da sociedade civil, foi insultado por cidadãos que não subscrevem a tese de submissão a troco de bens materiais.
Ainda há cerca de dois meses, no rescaldo das eleições de 23 de Agosto, a UNITA dizia que as autoridades tradicionais tinham sido transformadas em ‘’agentes de missões partidárias ilegais’’, numa alusão a doações feitas por João Lourenço enquanto candidato a Presidente.
Agora, o soba ‘’Sucumula’’ faz uma declaração que reacende o debate.
“É aquilo que os pastores falam: ‘quem desobedecer aqui na terra, mesmo a Deus não terá lugar’, por isso nós… ele como é o partido que está no poder o soba obedeceu para salvaguardar a sua convivência. Por isso se os sobas estão a lhe ver a obedecer (…)’’, admite o soba, debaixo de apupos de uma plateia que ligava tal ‘’obediência’’ a favores em termos de bens materiais.
A declaração foi proferida após críticas à actuação de sobas e regedores, tendo o cidadão José Guilherme apontado o que achou ser o cerne do problema.
Críticas e Constituição
“As autoridades tradicionais devem deixar de desviar a liberdade de pensamento e de escolha dos povos de Angola. Isto acontece muito cá na província de Benguela’’, refere Guilherme.
O jurista Chipilika Eduardo considera estar a ser desvirtuado o poder tradicional consagrado na Constituição.
“Infelizmente, devo dizer, tem sido uma prática que não surpreende. Quem está atento à política, percebe que os sobas são utilizados como ‘cipaios’ e ‘cabos eleitorais’, o que desvirtua, de facto, o papel tradicional que lhes incumbe a legislação’’, aponta jurista.
Consideradas como um importante parceiro do Estado, as autoridades tradicionais têm direito a um subsídio mensal.