O autarca da província moçambicana de Quelimane, Manuel de Araújo, alertou nesta quinta-feira, 16, que a envergadura da fraude eleitoral, nas municipais de 11 de outubro, pode mergulhar o país numa tensão política e acusou o partido governamental de “lançar veneno” para incitar Moçambique para uma nova guerra.
Analistas políticos moçambicanos sugerem que único apaziguador da tensão será o Conselho Constitucional (CC), que começou a apreciar as reclamações da oposição sobre a fraude.
Manuel de Araújo, que regressou ontem a Quelimane após um périplo diplomático pela Europa para pressionar por justiça nas eleições, disse que o país está a marchar para uma tensão política infeliz, insistindo que a fraude nas eleições tem intenção de empurrar o país para uma guerra.
“Estamos a viver momentos infelizes. A Frelimo está a enfrentar o povo moçambicano, está a enfrentar a Renamo e está a lançar veneno em todo o país, porque eles querem guerra”, disse Manuel de Araújo, aplaudido por milhares de apoiantes e simpatizantes presentes num comício.
Para o autarca da quarta maior cidade de Moçambique, a luta para reverter a atual tensão política pós-eleitoral deve continuar a ser feita nas cidades, com marchas de repúdio dos resultados eleitorais e diplomacia com as representações diplomáticas no país.
“Já chega, já não é altura de voltar ao mato. A luta, a batalha vai ser feita nas cidades e queremos avisar que nós queremos a justiça, nós queremos os nossos votos”, frisou Manuel de Araújo, alertando que o povo deve acordar para defender a democracia sofrida dos moçambicanos.
Ele espera agora decisões reconciliatórias do CC, o ultimo órgão que deve proclamar os resultados finais das sextas eleições municipais.
Esta é a primeira vez que o país espera mais de um mês pela divulgação dos resultados finais das eleições.
A Frelimo, que não respondeu aos nossos pedidos de comentários, já havia publicamente assumido que a vitoria nas 64 das 65 autarquias do país “era justa e merecida”, fruto de muito trabalho organizacional, mas o Presidente da República, que também lidera o partido governamental, remeteu seu posicionamento para depois da divulgação dos resultados pelo Conselho Constitucional.
Analistas políticos consideram que neste momento o único canal para se apaziguar a atual tensão é o CC, rebatendo as criticas do autarca de Quelimane sobre o risco de uma guerra potencial.
A Ricardo Raboco observa que há um risco do pais voltar a mergulhar na guerra pós-eleitoral, atendendo que a maioria dos manifestantes são jovens, que aproveitam protestar nas marchas as desigualdades sociais do país.
“O risco de o país mergulhar numa guerra é potencial e existe”, diz Raboco, porque é protagonizada por uma faixa etária maioritariamente “jovem que passa por um conjunto de privações”.
Aquele analista político acrescenta que a falência ética dos órgãos eleitorais podem tornar-se no combustível para violência pós-eleitoral.
“Não quero acreditar que o Conselho Constitucional poderá querer ver o país mergulhado num possível caos em função da sua atuação”, sendo por isso “neste momento a esperança e o guardião da democracia”, conclui Ricardo Raboco.
Para Bebito Manuel, baseado em Quelimane, as marchas da Renamo têm conseguido expressar a vontade do voto da população, sendo por isso uma arma de pressão para o CC.
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