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Ativistas guineenses acusam segurança da Presidência de rapto e torturas no Palácio


Carlos Sambu (esq), Augusto Mário Silva (cen) e Queba Sané (dir), Bissau, 9 outubro 2020
Carlos Sambu (esq), Augusto Mário Silva (cen) e Queba Sané (dir), Bissau, 9 outubro 2020

Os ativistas guineenses Carlos Sambu e Queba Sané, raptados e espancados na segunda-feira, 5, acusaram um dos seguranças do Presidente Úmaro Sissoco Embaló de ser o responsável do sequestro e torturas.

Em conferência de imprensa nesta sexta-feira, 9, em Bissau, aqueles ativistas apontam o dedo a Tcherno Bari.

Ativistas guineenses acusam segurança da Presidência de rapto e torturas no Palácio
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"Levaram-nos para o Palácio da República e nos espancaram, o autor moral e material deste rapto, chama-se Tcherno Bari, segurança de Umaro Sissoco Embalo, um faz tudo para o Presidente do República”, denunciou Carlos Sambu, quem também descreveu a humilhação que disse terem sido alvo.

"Estava um grupo de cinco pessoas, supostamente do batalhão da Presidência e esses todos, com galhos, com fios de eletricidade, mandaram-nos deitar no chão. Foram mais de 30 minutos de chicotadas, eu levei 56 chicotadas", contou o ativista.

As sevícias, segundo Sambú, foram filmadas por um elemento da Presidência que os acusou de gerir um perfil online falso para criticar a ministra dos Negócios Estrangeiros, Suzi Barbosa.

O que ele nega.

Ainda de acordo com aquele ativista, os autores os levaram para o Ministério do Interior, de onde foram soltos na terça-feira, 6, “sem culpa e sem nada, apenas com o pedido de desculpa do próprio ministro do Interior".

No mesmo dia, o ministro Botche Cande, quando questionado por jornalistas, disse apenas que “eles dormiram bem, estão bem”.

Na quarta-feira, 7, antes de deixar Bissau para uma visita a Portugal, o Presidente Úmaro Sissoco Embaló, também interrogado por jornalistas, afrimou que o rapto foi “lamentável” e que o Ministério do Interior e a diretora da Polícia Judiciária iriam investigar.

Na conferência de impensa dos ativistas, o presidente da da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), Augusto Mário Silva, considerou de "gravíssima" e "inadmissível" a acusação de que as torturas aconteceram na Presidência da República e por homens ligados a Embaló.

"É uma denúncia gravíssima, muito grave, ao longo dos anos e da história de vários terrores que aconteceram na Guiné-Bissau nunca tinha ouvido que a Presidência da República, o Palácio da República, foi utilizado para efetivamente torturar as pessoas. Nunca tinha ouvido isso", disse Silva, para quem agora é a vez de o Ministério Público atuar.

“Não há mais nada a esperar, não há necessidade de criar comissões especiais, o Ministério Público tem de abrir inquérito, tem competência e tem magistrados competentes para efetivamente conduzir o inquérito e apurar a responsabilidade de cada um dos intervenientes neste processo", afirmou o presidente da LGDH.

Ontem, o Procurador-Geral da República, Fernando Gomes, prometeu abrir um inquérito para apurar as circunstâncias do sequestro dos ativistas.

Ataque à rádio Capital FM

Entretanto, na terça-feira, 6, um dia depois do sequestro dos ativistas, o presidente da Comissão Especializada para Área da Defesa e Segurança do Parlamento, José Carlos Monteiro, afirmou que os atores do rapto foram os mesmos que assaltaram e vandalizaram a rádio Capital FM, a 26 de Julho:

"O que está acontecer na Guiné-Bissau é grave, sobretudo num país considerado um Estado de Direito e democrático, porque há gente que não quer ser criticada, é o mesmo grupo que vandalizou a Rádio Capital e a sequestrar e espancar os cidadãos”, denunciou o deputado.

Refira-se que Sambu e Sané estão ligados ao MADEM-G15, segundo partido mais votado e principal apoiante de Úmaro Sissoco Embaló e do atual Governo.

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