Os dois ativistas detidos na província angolana do Kwanza Sul por participar na sexta-feira, 12, numa vigília em solidariedade à família de Rodrigues Eduardo, antigo inspetor das Finanças, assassinado em Luanda, e libertados na terça-feira, 16, dizem ter sido acusados de tentar queimar a sede administrativa de Waku-Kungo.
Em declarações à VOA, Jigas de Nascimento e Katumbila Wassala lamentam que as autoridades não tenham entendido o seu protesto e os tenham acusados de querer queimar a sede da administração municipal.
No processo, no entanto, eles foram formalmente acusados de assuada e ainda respondem na justiça em liberdade, mas com o termo de residência e identidade.
Eles garantem que não vão desistir de participar em vigílias e protestos contra o Governador do Kwanza Sul, Job Capapinha.
Wassala, de 25 anos de idade, garante que em nenhum momento da sua detenção foi submetido a maus-tratos, mas revela que foram colocados em celas sem o mínimo de condições.
“Não fomos agredidos mas fomos colocados numa cela onde fomos forçados a defecar num balde”, conta, revelando, no entanto, ter ficado “triste por a polícia não ter entendido o que estãvamos a fazer e nos acusou de querer queimar a sede da administração municipal”.
Por seu lado, Jigas de Nascimento, de 30 anos de idade, afirma que mesmo depois de terem sido detidos e colocados em condições desumanas a sua ação civica não vai parar.
“Do lado da minha familia e amigos há sempre conselhos de que vou perder o emprego, vou morrer... mas eu ainda assim acho que não faço isso por ilusão ou por fama e por isso vou continuar”, assegura.
Ambos foram detidos do dia 12 quando participavam numa vigília em solidariedade à família do inspector do Governo provincial do Kwanza Sul morto em Luanda, quando se preparava para fazer uma inspeção na província, depois de a Procuradoria-Geral da República (PGR) ter confirmado a abertura de um processo de inquérito relacionado com o aluguer de duas viaturas para os vice-governadores daquela província, avaliado em 191 mil kwanzas por dia, por um período de um ano, ou seja mais de 300 dólares por dia.
Entretanto, a Procuradoria da República do Kwanza Sul disse não haver qualquer ligação entre o assassinato do inspector das Finanças e a investigação.
A VOA contatou o governador da província do Kwanza Sul, Job Capapinha, que sem gravar entrevista disse desconhecer qualquer detenção envolvendo o seu nome.