O ataque relâmpago dos Estados Unidos a uma base militar na Síria na quinta-feira, 30, abre um capítulo típico dos tempos da Guerra Típica e os próximos passos de todos os intervenientes vão determinar os episódios seguintes.
Esta leitura é do analista do Centro Investigação e Análise da Academia Militar de Lisboa (CINAMIL), Raúl Braga Pires, que admite, eventualmente, que o Presidente americano possa estar a admitir que o afastamento de Bashar al-Assad é iminente.
Para aquele especialista, ao tomar a decisão de atacar a base de onde terá partido o ataque químico da semana passada, segundo o Governo americano, Donald Trump, foi motivado, também, por três necessidades.
“A primeira é a de se demarcar do Presidente Obama que definiu uma linha vermelha em 2013, mas depois de um ataque com armas químicas de al-Assad ele não fez nada, e Trump quis dizer claramente que ele actua de forma diferente, enquanto também tem a necessidade premente de inverter os seus níveis de popularidade interna e externa”, explica Braga Pires.
Resposta a Putin
Aquele investigador aponta ainda “a necessidade de se decolar do Presidente russo Vladimir Putin e uma resposta a Putin em relação à intervenção dos serviços secretos russos ou não no resultado eleitoral” nos Estados Unidos.
Por outro lado, Trump pode estar, neste momento, a ponderar várias acções ou cenários, incluindo que a saída de Bachar al-Assad é irreversível e que está para breve.
“Aqui, ele tem a desculpa perfeita para se demarcar definitivamente de Obama e levar essa consequência até ao final”, admite Braga Pires.
Estado Islâmico beneficiado
Para o autor do blog raulbragapires.pt, este “é um cenário típico da guerra fria que conhecemos”.
Enquanto a Rússia diz que, por agora, vai reforçar as defesas anti-aéreas da Síria, aguarda-se por novos desenvolvimentos do Kremlin, na leitura daquela analista, para quem o principal beneficiado desse conflito pode ser o Estado Islâmico.
“Os russos não estão a combater o Estado Islâmico, mas sim a apoiar o regime sírio”, cuja preocupação “é as milícias e não o Estado Islâmico que, aliás, é um aliado do regime sempre que o queira utilizar”, conclui Raul Braga Pires.