O Fundo das Nações Unidas para a Infância, UNICEF, afirma que, na África Ocidental e Central, um número cada vez maior de crianças estão a ser acusadas de praticarem feitiçaria. Segundo aquela agência da ONU, essas acusações traduzem-se normalmente por sevícias e abandono das crianças em questão.
Gary Foxcroft conheceu muitas crianças acusadas de feitiçaria na região nigeriana do delta do Níger. Foxcroft é o fundador da organização Stepping Stones Nigeria, uma ONG baseada na Grã-Bretanha. Sentado no seu escritório em Londres, Foxcroft olha para as fotografias de duas raparigas e relembra o seu caso. As duas irmãs, Helen e Victoria, tinham 3 e 5 anos quando os seus casos foram colocados à atenção da Stepping Stones.“ Eram ambas muito pequenas, disse ele. Foram acusadas de feitiçaria. O pai delas abandonou-as e estiveram a viver no campo durante vários meses. Sobreviveram comendo frutos silvestres e bebendo água da chuva. No seio da comunidade ninguém queria ajudá-las e as pessoas temiam ser contaminadas pelos seus espíritos maléficos.”
Segundo um relatório do UNICEF recentemente publicado, as acusações de feitiçaria contra crianças estão a aumentar nas regiões da África Central e Ocidental.
Aleksandra Cimpric, tem vindo a investigar nos últimos 4 anos essas acusações. Segundo ela, no passado, eram normalmente as mulheres e os idosos a serem acusados de feitiçaria.“ Quando cheguei a essa região em 2005, disse ela, não havia acusações de crianças. Em 2006 e 2007 verificamos vários casos de crianças acusadas de feitiçaria.”
De acordo com o UNICEF, só na capital congolesa, Kinshasa, mais de 20 mil crianças deambulam pelas ruas acusadas de actos de bruxaria.
Foxcroft afirma que crianças vulneráveis são muitas vezes alvo de violência para admitirem que cometeram esses actos. “ Muitas das crianças com quem trabalhamos, disse ela, foram queimadas e acorrentadas durante meses a fio”.Outro responsável do UNICEF na África Central e Ocidnetal, Joachim Theis, afirma por outro lado que algumas supostas igrejas locais estão a receber dinheiro para exorcizar as crianças e livrá-las dos maus espíritos. “ Segundo as informações de que dispomos, afirmou, nalguns casos as ditas igrejas vêm nisso uma possibilidade de negócio oferecendo serviços de exorcismo. É importante contudo dizer que não devem fazer-se generalizações acerca de igrejas acusando crianças. Trata-se na realidade de indivíduos que criam as supostas igrejas para tirar partido disso.”
De referir que a organização Stepping Stones, organiza campanhas públicas para a criação de centros onde as crianças acusadas de feitiçaria podem procurar ajuda. As duas irmãs do delta do Níger, Helen e Victoria, vivem actualmente num desses centros onde têm garantida alimentação e abrigo.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância, UNICEF, afirma que, na África Ocidental e Central, um número cada vez maior de crianças estão a ser acusadas de praticarem feitiçaria.