Não se podia confiar em Agostinho Neto
O primeiro presidente de Angola Agostinho Neto era um homem em que não se podia confiar e que embaraçou as autoridades portuguesas enquanto a FNLA era apenas “um bando de imbecis corruptos”.
Estas são as opiniões de alguns dos principais intervenientes no processo de transição que levou á independência de Angola.
As suas opiniões transparecem em actas de reuniões agora publicadas pelo Departamento de Estado em que o antigo presidente do Zaire Mobustu Sese Sekou é descrito pelo diplomata americano hnery Kissinger como “um semi selvagem”.
Os documentos são uma oportunidade para se levantar o véu sobre as verdadeiras opiniões que destacadas figuras públicas da cena política internacional têm sobre outras em conversas privadas fora da atenção do público e jornalistas.
Os documentos agora publicados incluem centenas de actas de reuniões ao mais diverso nível em que as conversas fluem sem qualquer limitação aparente.
O Major Melo Antunes, que ocupou uma posição destacada nas negociações para as independências das antigas colónias portuguesas não tinha uma opinião muito boa sobre Agostinho Neto, o presidente do MPLA.
Segundo os documentos agora publicados o Presidente Kenneth Kaunda da Zâmbia disse ao diplomata americano Henry Kissinger ter sido informado por Melo Antunes que esteve estava “preocupado com Neto que é apoiado pelo partido Comunista em Portugal”.
De acordo com a acta desse encontro Kaunda afirmou:
“Melo Antunes disse que os portugueses não apoiariam Neto porque ele os tinha repetidamente embaraçado. Melo Antunes disse-me que Neto dizia ter aprovado algumas questões e depois mudava de opinião para seguir a linha comunista. Por essa razão Melo Antunes disse que preferia apoiar Savimbi. Eu disse a Melo Antunes que nós na Zâmbia tínhamos os mesmos problemas com Neto”.
Kaunda disse ainda aos americanos que “ o MPLA e Neto seguem a linha de Moscovo”
Kissinger mais tarde tem ele próprio um encontro com Melo Antunes que segundo as actas da reunião descreve o dirigente da FNLA Holden Roberto como alguém “sem estofo político”
“Das três facções eu diria que Savimbi é o mais inteligente, o mais capaz e o mais forte politicamente,” disse Melo Antunes que acrescentou:
“Há quem ponha em causa as suas decisões políticas. Jogou em todos os lados e tem mudado o seu apoio de lado para lado. Penso que irá perder popularidade devido a essas acções. Mas de momento tem apoio considerável do Zaire e da Zâmbia enquanto Neto devido à sua intransigência tem perdido algum desse apoio. Savimbi não é politicamente um peso leigeiro. Tem apoio de base”.
O politico português é também citado numa das actas como tendo dito que “sem Savimbi não teríamos chegado a um acordo para a transição”.
Umba di Lutete na altura ministro dos negócios estrangeiros zairense descreve Agostinho neto como “um propagandista. É só conversa e pouca acção”.
Se Melo Antunes como vimos não tinha uma boa opinião sobre a FNLA e Holden Roberto, uma avaliação mais dura foi feita pelo General General Silva Cardoso, ultimo governador português de Angola, que segundo uma nota do consulado americano em Luanda descreveu a organização como “um punhado de imbecis corruptos que não conseguiriam ir do Caxito a Luanda mesmo com uma bússola e um mapa das estradas”.
Cardoso aliás não tem também uma opinião muto elogiosa sobre a posição dos outros dois movimentos angolanos em 1975.
“Em 1975 o MPLA estava de joelhos. A Unita não estava tão longe do chão. Estava de rastos,” disse Silva Cardoso.
Numa reunião doe destacados funcionários do Departamento de Estado William Hyland, do bureau de investigação descreve a FNLA como “ um exército de maltrapilhos” ao que Henry Kissinger responde : “Como é que se ganha uma guerra com um exercito de mal trapilhos?”
Na acta de uma reunião com destacados diplomatas americanos Kissinger descreve o Presidente Mobutu Sese Sekou do Zaire como “um semi selvagem” e noutra reunião queixa-se que “ o problemas com os africanos é que não se pode deixa-los sozinhos… Tem que se estar em cima deles constantemente para que as coisas sejam feitas”.
Num encontro com o presidente Gerald Ford o embaixador soviético Anatoly Dobrynin tenta acalmar os receios do presidente americano sobre uma intervenção cubana em África.
“Voce sabe como são as coisas em Africa. Um dia vão por aqui no dia seguinte vão para outro lado,” diz Dobrynin.
A FRELIMO que iria assumir o poder em Moçambique é elogiada pelo Presidente Kenneth Kaunda num encontro com o Presidente Ford em 1975.
“Posso lhe dizer pela minha própria experiencia que querem ser independentes. Foram ajudados pela China e Russia mas não os fantoches de ninguém,” diz Kaunda.
E o próprio Kissinger parece gostar de uma palavras de ordem da Frelimo.
Num encontro com Rupiah Banda então ministro dos negócios estrangeiros zambiano, Kissinger pergunta lhe: “Então como vão as coisas na Zambia?”.
Responde Banda:
“Como dizem em Moçambique a luta continua”.
Kissinger:
“Isso é um slogan moçambicano? É um bom slogan”.