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Documentos secretos: Kissinger esteve em "guerra" com Departamento de Estado


Gerald Ford
Gerald Ford

Nos bastidores da intervenção americana uma "guerra" amarga e insultuosa entre facçoes diferentes.

Kissinger em guerra com o departamento de estado

Durante os intensos debates em Washington sobre a guerra em Angola em 1975 o antigo Secretário de Estado e Conselheiro de Segurança Nacional Henry Kissinger acusou o Departmento de Estado de se comportar como um antro de prostitutas.

A fúria de Kissinger culmina meses de antagonismo e divisões sobre a via a seguir pelos Estados Unidos na guerra civil que começa a intensificar-se ao longo de 1975 em Angola.

Essas divisões são evidentes em milhares de documentos tornados públicos pelo Departamento de Estado sobre a política americana para a África Austral e devem-se essencialmente a visões diferentes das implicações do que se passa em Angola para os Estados Unidos.

Kissinger vê toda a problemática em termos da guerra fria com a União Soviética enquanto o Departamento de Estado vê Angola nos anos 1970 como um país sem interesses estratégicos para os Estados Unidos.

Uma leitura dos documentos agora publicados indicam claramente essas divisões que são por exemplo palpáveis numa reunião a 14 de Julho de 1975 quando o sub-secretário de estado Joseph Sisco afirma que os interesses americanos em Angola não são tão importantes que mereçam a possibilidade de acções clandestinas.

A que Kissinger responde: “Estás disposto a deixar cair (Angola) nas mãos dos comunistas?”

Sisco responde que “sim”.

“E o Zaire?” Interroga Kissinger.

“Não tenho a certeza que isso vá acontecer,” responde Sisco.

Kissinger afirma sarcasticamente que “ o Departamento de Estado está empenhado em assegurar que nada vai acontecer em Angola”.

O departamento tinha anteriormente enviado um memorando afirmando que os Estados Unidos não possuíam interesses vitais em Angola e que os riscos de intervenção eram “extremos”.

Nessa reunião Kissinger repete o seu receio das consequências de uma vitória da União Soviética em Angola e o efeito que isso teria sobre o resto de África e diz não querer que ninguém “ dê aos dirigentes africanos lições sobre a não-violência, amor e irmandade”.

Outras actas mostram Kissinger a queixar-se de ter pedido opiniões ao Departamento de Estado e de ter recebido o que descreveu de “uma resposta de choramingas”, uma referência a um documento em que o Departamento de Estado aconselha ao não envolvimento dos Estados Unidos no conflito que se começava a desenrolar em Angola.

Numa reunião com diplomatas americanos Kssinger interroga: se Angola for tomada pelos comunistas que “conclusões é que os lideres africanos vão tirar dos Estados Unidos?”

Kissinger acrescenta que o presidente do Zaire Mobutu irá pensar que “se deixarmos Angola ir, então estamos a deixa-lo ir” fazendo notar que o que se passou no Vietname irá contribuir para esse modo de pensar.

“Penso que se ele é racional é isso que ele está a pensar,” diz Kissinger .

Os documentos indicam que durante o período que antecede a independência de Angola o Conselho Nacional de Segurança emitiu um documento em que analisa a situação e dita três opções para os Estados Unidos:

Neutralidade; promoção activa de uma solução pacifica pela qual se criaria uma situação em que tanto a FNLA como a Unita estariam em melhor posição de competir com o MPLA; e dar apoios para se assegurar a viabilidade da FNLA e da Unita com o objectivo de se impedir o MPLA de alcançar o poder.

Kissinger faz valer o seu ponto de vista em reuniões com o presidente Gerald Ford.

Numa reunião a 17 de Julho de 1975 diz ao presidente que “temos problemas enormes com o Departamento de Estado” que “apaixonadamente” não quer uma intervenção.

Kissinger argumentou também perante o presidente que “sem ao apoio dos Estados Unidos a outros movimentos o Neto ( presidente do MPLA) ganha e o argumento que se ouve é que isso não tem importância”.

Actas de reuniões entre o presidente e Kissinger indicam que o presidente americano concordou afirmando que “ não fazer nada não é opção” pois significaria “perder a Africa Austral”.

“Penso que podemos defender isto em público, “ diz Ford numa reunião a 18 de Julho de 1975. “Não vou deixar que alguém em Foggy Bottom ( zona onde está o Departamento de Estado) me impeça de seguir em frente”.

Mas talvez a reunião em que animosidade de Kissinger para com o Departamento de Estado ( que ironicamente ele chefiava na altura) seja mais visível na actua de uma reunião a 18 de Dezembro de 1975 em que Kissinger se queixa abertamente de funcionários do departamento de estado estarem a transmitir informação a jornalistas afirmando que os interesses dos Estados Unidos em Angola se devem às riquezas do território.

“ O comportamento do departamento sobre a questão de Angola é uma desgraça,” diz Kissinger no começo do encontro acusando o departamento de estado de “uma estupidez que o torna incapaz de política externa”.

“Ninguém pode pensar que os nossos interesses em Angola se devem … ás riquezas sem fim de Angola. Isto não é uma casa de p.. s estamos a executar politica nacional,” diz Kissinger.





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