CEDEAO e a difícil gestão de golpes de Estado
Os confrontos desta semana entre os grupos armados no norte do Mali vão de certeza pressionar a CEDEAO a enviar uma força militar que há meses vem se debatendo, para a região.
Alguns malianos no norte do país estão a pedir pela intervenção, mas os especialistas questionam sobre que eficácia militar da CEDEAO contra os grupos terroristas no deserto.
Este é um de vários desafios que a organização regional enfrenta depois de sucessivos golpes de Estado no Mali e na Guiné-Bissau.
A CEDEAO – Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental - foi criada em 1975 e tem como membro 15 países. As crises políticas que têm pairado sobre a região têm adiado a almejada integração económica, e a organização se viu confrontada a ter que dedicar-se a gestão de conflitos e segurança.
Desde a sua fundação a CEDEAO estatuiu uma série de protocolos e um deles preconizou “tolerância zero” para com aqueles que ilegalmente assumam ou permaneçam no poder.
Quando as forças armadas assumiram o poder no Mali a 22 de Março e a 12 de Abril na Guiné-Bissau os líderes da organização regional brandiram a política de tolerância zero como guia de busca de soluções a estas duas crises politicas. Mas e como sempre o desafio está na sua implementação, dada a complicação de circunstâncias no terreno.
Até ao presente há hesitações em relação ao desempenho da junta militar no Mali. Houve uma mudança de posição da CEDEAO desde a assinatura do acordo com a junta militar no qual reconheceu que os líderes do golpe tinham um papel a desempenhar na transição, e dois meses mais tarde, veio anunciar que já não reconhecia a junta.
Sunny Ugoh é director de comunicação da CEDEAO e diz que a junta maliana é responsável pela perda de confiança que nela se tinha depositado.
“Estamos a tentar se engajar com pessoas de confiança no Mali. Se comprometermos com pessoas sem crédito, que são imprevisíveis e que não cumprem os seus engajamentos, será difícil para nós continuarmos no mesmo caminho. É esta a realidade no Mali.”
Analistas afirmam que a posição da CEDEAO com a junta na Guiné-Bissau pode ser resumida em uma palavra: Angola. Uma outra antiga colónia portuguesa, Angola tem tido uma longa e forte presença na Guiné-Bissau e por causa de uma persistente rivalidade entre Angola e alguns países da África Ocidental, os líderes da CEDEAO a seguir ao golpe aproveitaram a oportunidade para por os angolanos fora de Bissau.
Uma das primeiras decisões da organização foi trazer tropas para substituir a missão angolana e supervisionar a transição do poder para o governo civil.
Vincent Foucher é especialista da Guiné-Bissau na International Crisis Group.
“Há uma percepção generalizada da comunidade internacional de que a CEDEAO tem sido muito complacente com a junta, essencialmente porque os militares estavam ansiosos em por fim a missão angolana. Agora que Angola está fora, talvez a CEDEAO possa começar a pensar seriamente sobre um plano para a Guiné-Bissau e como o país deve aplica-lo.”
A crise no Malí está para além do impasse político e de indisciplina militar em Bamako. Devido a presença de grupos armados, incluindo organizações terroristas que controlam o norte do país, a CEDEAO tem tentado buscar apoios de outros países africanos assim como da comunidade internacional.
Gilles Yabi é director para África Ocidental na International Crisis Group.
“No caso do Mali há uma influência que vem de outros países que não são membros da CEDEAO mas que tem um importante papel histórico no país – Argélia em particular, mas também a Mauritânia. A CEDEAO tem que considerar as posições desses dois países na questão do Mali.”
Outros analistas consideram que a CEDEAO deve igualmente considerar os factores endógenos ou seja perceber os problemas a partir do interior entre os malianos, uma perspectiva que a organização regional está longe de ter em conta, afirmam os especialistas.