O governo brasileiro, por iniciativa do Ministério da Justiça, lançou Sexta-feira (6), a nova campanha nacional de desarmamento da população.
Estimativas apontam para a existência, actualmente, de mais de 14 milhões de armas circulando nas mãos de civis no Brasil.
O objetivo da iniciativa, apoiada por instituições e organizações civis, é recolher o maior número de armas em todo o Brasil.
A campanha traz novidades em relação às anteriores, como a destruição da arma no acto da entrega, a ampliação do número de pontos de recolhimento e a não obrigatoriedade de identificação do cidadão que quer se desarmar.
Criticada por muitos como uma ação duvidosa, com pouca possibilidade de resultados concretos, a campanha recebe contudo apoio de estudiosos do fenômeno da violência no Brasil.
Para eles, é verdade que o grande número de homicídios está relacionado com a falta de controle de armas dentro do país e nas fronteiras e com a ineficácia do governo no combate aos grupos criminosos. Mas, é verdade também que parte muito significativa dos crimes tem relação com o uso de armas por pessoas comuns em conflitos interpessoais.
O sociólogo do Movimento Viva Rio, Antônio Rangel, lembra que o cidadão de bem, em determinadas situações, tem o mesmo poder de destruição de um criminoso.
“É o empregado contra o patrão, o homem contra a mulher por ciúme, por bebedeira, são brigas de vizinho, brigas de trânsito. Um cenário muito comum é o homem pobre que, no final de semana, ele não tem dinheiro para mais que isso e vai para o bar ver futebol e tomar cachaça. A mistura futebol, cachaça e arma de fogo é morta na certa," disse ele.
Para o estudioso, todos os que defendem o desarmamento da população brasileira, em campanhas como a que começa hoje, estão certos de que qualquer um pode matar em algum momento da vida se tiver acesso fácil a uma arma.
“Há pessoas que acreditam que, se a pessoa é bem educada ela pode ter arma porque vai saber usá-la com responsabilidade. Eles ignoram o lado emocional das pessoas que não têm relação com cultura e educação. Um homem com ciúmes pode ser doutor, desembargador, se ele fica alucinado pode matar a companheira. Um jovem transtornado, porque brigou com a namorada, com uma arma à mão pode se matar, ” alerta.
Antônio Rangel lembra que as pessoas armadas estão alimentando uma falsa sensação de segurança e os grupos criminosos, que acabam roubando essas armas das casas dos chamados cidadãos de bem.
“A arma é um excelente instrumento de ataque. Nós especialistas sabemos que a arma como instrumento de defesa exige uma série de circunstâncias, que normalmente não estão presentes. A principal delas é você não ser surpreendido pelo bandido. O que é dificílimo. O que acontece como regra é que você vai estar em casa, tem uma arma e não vai ter como usar porque vai ter com uma arma apontada na cabeça; e quem reage morre. Quem tem arma vai acabar tendo essa arma roubada pelos assaltantes. Entre as maiores fontes de suplemento de armas para o crime organizado estão as que roubam de nós. Em 2003, foram roubadas 27 mil armas de residências de homens de bem, segundo a Polícia Federal," disse ele.
O estudioso do Movimento Viva Rio avalia que a campanha precisa convencer a população do risco de um país tão armado como está o Brasil hoje.
“É uma campanha de esclarecer que aquilo vem em benefício da população. Se a sociedade participa, ela convence o cidadão que um avô que tem netos em casa não pode ter uma arma que pode ser encontrada pelas crianças," acrescentou
Campanha é voluntária e muitos duvidam que possa alcançar sucesso