Depois do fim da guerra, em 2002, a capital angolana, Luanda, sofreu grandes transformações e fez mímica da arquitectura das grandes cidades de negócios, com os seus prédios a tentar tocar o céu e uma baía em que cintilam as luzes e texturas desse postal de Luanda, que esconde memórias de um lugar centenário.
Ar Condicionado vem mostrar esse lugar que não se quer esquecer, fazendo-o na perspetiva de personagens que frequentemente ignoramos, com foco nos detalhes simples de um quotidiano comum à maioria dos luandenses, senão a todos, de um modo ou de outro.
Com tantas analogias possíveis sobre a perda, sobre o resgate, sobre a condição das pessoas, Fradique, o realizador do filme, diz que foi a “parte física e a possibilidade de queda” dos aparelhos de ar condicionado que o encantou e ao guionista Ery Claver.
Ao colocar Matacedo no centro da história, ao fazer-nos caminhar com os seus traumas, as suas missões e sonhos, Ar Condicionado lança o espectador numa aventura introspetiva.
Filmado no Cacimbo (tempo frio), Ar Condicionado não tem, propositadamente, as cores quentes do Verão, explica Fradique para quem a intenção passava por mostrar as pessoas normais do dia-a-dia e não os heróis de ficção, nem uma Luanda cheia de brilhos: “O importante não são os efeitos especiais, são as pessoas".
Ar Condicionado retrata uma Luanda real, num filme sobre condições e condicionalismos, uma cidade de invisíveis, mas essenciais. Um resgate das memórias de uma cidade intensa paradoxalmente moderna e perdida no tempo.
Esta produção da Geração 80 contou com uma banda sonora original escrita e composta por Aline Frazão, num encontro muito feliz entre música e cinema, que Fradique garante querer continuar a fazer.
O filme, que estreou no festival cinema de Roterdão este ano, foi seleccionado para o Festival Global We Are One, uma iniciativa em parceria entre YouTube, Tribeca Film Festival, Cannes e Sundance.