O príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, convidou os líderes dos países árabes do Golfo, Egito e Jordânia para uma reunião em Riade na sexta-feira, informou a agência noticiosa estatal saudita SPA esta quinta-feira, 20.
Os Estados árabes comprometeram-se a trabalhar num plano pós-guerra para a reconstrução da Faixa de Gaza para contrariar a proposta do presidente dos EUA, Donald Trump, de reconstruir o enclave como uma estância balnear internacional depois de reinstalar os seus habitantes palestinianos noutros locais.
“Esta cimeira árabe será, sem dúvida, a mais importante para o mundo árabe e para a causa palestiniana nas últimas décadas”, disse à AFP Umer Karim, especialista em política externa saudita da Universidade de Birmingham.
De acordo com fontes diplomáticas e peritos árabes, houve um raro consenso árabe para rejeitar a deslocação dos palestinianos, mas poderão surgir divergências sobre a governação de Gaza e o financiamento da sua reconstrução.
A Arábia Saudita disse que a reunião de sexta-feira seria não oficial e realizada no “quadro das estreitas relações fraternas que reúnem os líderes”, disse a SPA.
Numa visita a Washington no início de fevereiro, o rei Abdullah II da Jordânia também mencionou um plano egípcio que seria discutido na cimeira.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na quarta-feira à noite que não viu a proposta que está a ser discutida pelos líderes árabes como uma alternativa ao seu plano para assumir o controlo de Gaza quando a guerra entre o Hamas e Israel terminar.
“Não a vi”, disse Trump em resposta a uma pergunta de um repórter no Air Force One. “Quando o vir, digo-vos”, acrescentou.
“Quanto à ação árabe conjunta e às decisões emitidas a respeito, ela estará na agenda da próxima cúpula árabe de emergência que será realizada na irmã República Árabe do Egito”, acrescentou SPA, referindo-se aos planos para uma cúpula árabe de emergência a 4 de março para discutir o conflito israelense-palestino.
Trump apelou ao Egito e à Jordânia para acolherem os palestinianos reinstalados em Gaza, uma sugestão que ambos rejeitaram.
A Faixa de Gaza foi destruída durante os mais de 15 meses de conflito com Israel. As Nações Unidas estimam que a reconstrução do território ultrapasse os 53 mil milhões de dólares.
O plano egípcio
O plano egípcio prevê angariar até 20 mil milhões de dólares em três anos junto dos Estados árabes e do Golfo para a reconstrução de Gaza. De acordo com este plano, os habitantes de Gaza não seriam obrigados a sair e a faixa seria governada por palestinianos.
O Egito não mencionou oficialmente este plano.
Mas, segundo Mohammed Hegazy, membro do Conselho Egípcio para os Negócios Estrangeiros, um influente grupo de reflexão do Cairo, é composto por três fases, repartidas por três a cinco anos.
“Durante a primeira fase, que durará seis meses, (...) será utilizado equipamento pesado para limpar os escombros e serão criadas três zonas seguras para realojar os deslocados” na Faixa de Gaza, explica o antigo diplomata. “Serão disponibilizados alojamentos móveis."
A segunda fase exigirá “uma conferência internacional sobre a reconstrução” do território palestiniano, sobretudo das suas infra-estruturas - água, eletricidade e telecomunicações, acrescenta.
E a terceira terá como objetivo “relançar um processo político com vista a uma solução de dois Estados” para o conflito israelo-palestiniano que dura há décadas, acrescenta. Uma solução rejeitada por Israel.
“Uma iniciativa deste tipo exige uma unidade árabe sem precedentes”, afirma Karim.
“Em última análise, o maior desafio ao plano egípcio é o seu financiamento”, disse à AFP um diplomata árabe. “Alguns países, como o Kuwait, injectarão fundos, talvez por razões humanitárias, mas outros Estados do Golfo imporão condições específicas antes de qualquer transferência financeira.”
“Os sauditas e os emiratis não gastarão um cêntimo se os cataris e os egípcios não derem garantias sobre o (destino do) Hamas” no pós-guerra, acredita Umer Karim.
Com Reuters e AFP
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