Analistas dizem que o posicionamento dos Estados Unidos relativamente ao conflito em Cabo Delgado, considerando o Estado Islâmico de Moçambique uma organização terrorista, abre a possibilidade de um outro tipo de colaboração entre Washington e Maputo, não apenas no combate à insurgência como também aos diferentes tipos de tráfico que ocorrem naquela zona.
Nalguns círculos de opinião afirma-se que o posicionamento dos Estados Unidos constitui uma grande ajuda ao Governo de Moçambique, mas o jornalista Fernando Lima, diz que não sabe se isso ajuda ou não, porque o Governo moçambicano tem tentado evitar esse tipo de conotações, nomeadamente a violência em Cabo Delgado.
Avançou que os Estados, há algum tempo, vêm fazendo esse tipo de ligação, sendo por isso que, de algum modo, "não se sabe se a posição americana ajuda ou não, mas, claramente, que se abre a hipótese para um outro tipo de colaboração".
Referiu que o tipo de colaboração entre os Estados Unidos e Moçambique é problemático, porque significa que Moçambique terá que mostrar mais clareza no combate às redes de tráfico, porque a questão dos ISIS não tem apenas a ver com o terrorismo em Cabo Delgado.
Rotas de tráfico
"Tem também a ver com as rotas de tráfico, nomeadamente, humano e de drogas, e esses tráficos, em Moçambique, beneficiam pessoas, logo, o Governo de Moçambique terá de fazer opções muito claras em relação ao combate a essas mesmas redes e àqueles que beneficiam disso dentro do território moçambicano", destacou aquele analista.
Mas o analista Calton Cadeado não tem dúvidas que o pronunciamento dos Estados Unidos prejudica o Estado moçambicano por causa do timing em que a informação é divulgada, porque neste momento, pode servir de publicidade a favor do grupo terrorista.
Cadeado acrescentou que poderá haver um outro tipo de relacionamento entre os dois países, no contexto da luta contra os terroristas, mas o posicionamento americano prejudica o Governo moçambicano porque, neste momento, as operações militares, no terreno, estão a favor das Forças de Defesa e Segurança e não dos insurgentes como acontecia antes de Outubro de 2020.
Discurso diplomático
"Não sei se conta muito o facto de a América designar os insurgentes como uma organização terrorista; penso que contaria muito se os serviços de inteligência americanos pudessem capturar as chefias desses insurgentes. Penso que é um discurso diplomático, porque é que dizem só agora?", interroga o analista João Mosca.
Por seu turno, o político Raúl Domingos é da opinião de que o posicionamento americano reforça a ideia que ele defende de que o terrorismo não se combate de forma isolada, e que Moçambique deve procurar apoio externo para fazer face à insurgência armada em Cabo Delgado.
Domingos entende que com este posicionamento poder-se-à estabelecer um outro tipo de relacionamento, mas defende que os Estados Unidos até deviam fazer um pouco mais, dada a gravidade da situação que se vive em Cabo Delgado.
Para o sociólogo João Colaço, com o pronunciamento dos Estados Unidos, o Governo de Moçambique ganha um importante aliado na luta contra os insurgentes em Cabo Delgado, "e é um aliado forte, que pode fazer toda a diferença no combate à insurgência."