A SADC deve reforçar a sua Missão em Estado de Alerta em Moçambique, para melhorar a sua eficácia no combate ao terrorismo em Cabo Delgado, onde ainda não conseguiu consolidar a segurança nos locais sob sua gestão, dizem analistas.
Os problemas da força da SADC em Moçambique são conhecidos, e quando se analisa o desempenho operacional no terreno entre o contingente do Ruanda e o regional, nota-se um desnível.
Nas áreas cometidas ao Ruanda não têm sido reportados incidentes militares, mas nas zonas confiadas às tropas da SADC, continuam a registar-se problemas, nomeadamente nos distritos de Nangade, Muidumbe, Macomia, Meluco e Quissanga, onde a força regional ainda não conseguiu consolidar a segurança.
O analista Fernando Lima diz que a SADC, ao nível militar, tem feito um debate sobre isso, nomeadamente, a necessidade de reforço do contingente sul-africano, que é o maior da força regional, e também a prestação dos militares tanzanianos, que são responsáveis pela área de Nangade.
Algumas correntes de opinião têm feito referência a uma eventual falta de moral ou de pagamento na foça da SADC colocada em Cabo Delgado, mas para o jornalista Lima não parece que seja esta a questão.
"Eu utilizo as análises que são feitas ao nível militar e também os documentos que foram produzidos pela própria SADC, e quando foi estimada uma força com um determinado poder de fogo e um determinado número de homens e de meios logísticos para fazer face à violência em Cabo Delgado, nós podemos constatar, no terreno, que esse contingente não está projectado na forma que foi planeado e por isso há esses problemas", realça Lima.
Para Lima, não parece que existam problemas de moral ou de outra natureza, porque se existissem "teriamos muitas perdas e muitas baixas nessa força".
Coordenação
Relativamente à prestação desta força, há quem questione se é possível juntar um grupo de soldados que nunca estiveram juntos e esperar que consigam manobra como um todo?
"É possível, sim", afirma Fernando Lima, anotando que a força da SADC se dispôs no terreno em função dessas especificidades, e como é uma força que habitualmente não faz manobras conjuntas, a decisão foi de colocar os diferentes dispositivos militares em zonas específicas, fazendo-se uma coordenação de topo entre as várias unidades.
Refere ser por isso que cada zona tem um contingente específico, apontando como exemplo a área de Macomia, onde o contingente sul-africano, não está em disputa ou em coordenação directa com a força ruandesa, "porque aquela zona é da responsabilidade dos militares sul-africanos".
À pergunta se ao contingente da SADC não terá sido confiada uma área mais difícil que a rundesa, aquele analista respondeu não ser este o problema, mas o facto de que a força regional é insuficiente para a área que tem que cobrir, "e esta força tem que fazer duas missões: ocupar e guarnecer território e ter forças de carácter ofensivo".
Infantaria
Lima diz que uma das deficiências que foram anotadas ao contingente sul-africano foi que só tinha forças operacionais e não tinha uma força de infantaria para fazer ocupação espacial, " e especulando um pouco, acho que essa componente, eventualmente, seria da responabilidade das Forças de Defesa e Segurança moçambicanas, que têm ainda as deficiências que são conhecidas".
Entretanto, outro analista, Moisés Mabunda, faz referência a um estudo que foi divulgado a partir da capital ruandesa, Kigali, comparando as actividades operativas da força da SADC e do contingente do Ruanda em Cabo Delgado.
"O documento indicava que os militares da SADC pouco saiam das suas posições, pouca vasculha faziam, mas para além deste estudo, haviam também muitos murmúrios, no sentido de que os militares da SADC eram pouco agressivos", considerando que a sua fraca eficácia está relacionada à falta de pagamento ou de logística.
"Eu diria que é falta de determinação, e até por alguma razão, podemos especular que a força da SADC tem falta de rodagem; as tropas do Ruanda estiveram no Congo há relativamente pouco tempo, e portanto, têm um pouco mais de rodagem do que os militares da SADC, que estão agora na sua segunda missão; não estão rodados", diz Mabunda.