O Governo do Japão e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento-PNUD, lançaram, semana passada, um projeto para a prevenção de conflitos, através da criação de mecanismos de paz e coesão social na província de Cabo Delgado, vista por analistas como o Eldorado de Moçambique, mas com elevados índices de pobreza, por falta de políticas públicas redistribuítivas.
Há cerca de três anos que Cabo Delgado está a ser afetada pela violência armada, e o embaixador do Japão em Moçambique, Kimura Hajime, diz que o seu país decidiu apoiar, principalmente, comunidades deslocadas com as tensões existentes, devido a conflitos violentos.
"São conflitos que resultam do facto de que a ideia de trazer desenvolvimento para Moçambique está associada a Cabo Delgado, mas as populações não conseguem ver isso. Há muita miséria naquela província e o Governo central é responsável por isso, por causa das suas más políticas públicas", acusou Edson Cortez, director do Centro de Integridade Pública-CIP.
Segundo Cortez, "há que mudar isso, porque as pessoas têm expectativas, sobretudo porque se trata de uma província que é vista como o Eldorado do nosso país, mas com falta de investimento público".
Mais de 250 mil deslocados
Em Cabo Delgado avança o maior investimento privado em África para exploração de gás natural. A província está sob ataque desde 2017, por insurgentes cujas incursões já provocaram a morte de, pelo menos, 1000 pessoas segundo várias agências internacionais.
De acordo com a informação mais recente do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, o número de deslocados internos devido à violência em Cabo Delgado, duplicou desde Março e já ascende a 250 mil pessoas.
O representante residente do PNUD em Moçambique, Francisco Roquete, afirmou que através do projeto, pretende-se não apenas conter os conflitos em curso, mas também criar ambientes propícios em que as comunidades possam desfrutar do desenvolvimento social e económico de uma maneira sustentável.
Para o economista João Mosca, além disso, é preciso também que o Estado moçambicano invista em sectores prioritários, "colocando em zonas de maior conflito serviços públicos com qualidade, nomeadamente, educação, saúde, água e energia. E o investimento público nestas áreas e praticamente inexistente".
Vários analistas e especialistas associam o conflito em Cabo Delgado à pobreza e à falta de esperança sobretudo por parte da maioria dos jovens locais, que facilmente se deixam mobilizar para ações de violência.
Vários fatores na equação
Entretanto, o analista Calton Cadeado afirma que em estudos e análises estratégicas, é difícil falar de um fator único para explicar qualquer que seja o conflito.
Realçou que há conflitos que até podem começar com um único fator, mas dependendo da sua durabilidade, outros fatores podem entrar na equação, inclusive anular ou diminuir o fator inicial.
"Neste momento estamos a misturar vários fatores para perceber a situação e torna isso complexo. O que posso dizer é que há uma dimensão doméstica e internacional que é preciso olhar; há também uma dimensão ligada aos recursos naturais e à fragilidade do Estado, mas no final do dia há muitos fenómenos que nós temos que equacionar, para perceber este problema.", destacou.
O projeto para a prevenção de conflitos em Cabo Delgado, de acordo com o diplomata nipónico, está avaliado em mais de 640 mil dólares e será coordenado pelo PNUD, em parceria com o ministério moçambicano do Interior.