Trabalhadores angolanos e economistas rejeitaram declarações de um dirigente do Banco Nacional de Angola (BNA), João Nzango, que afirmou que os angolanos não têm cultura de poupança.
O responsável que falava à Angop à margem da palestra sobre "A importância da Poupança", alusiva ao Dia Mundial da Poupança que se assinalou ontem, frisou que a fraca cultura da poupança levou o BNA a promover acções de formação de activistas sobre literacia financeira.
Nzango lembrou que, em parceria com o Ministério da Educação, o BNA capacitou professores de algumas escolas do país sobre a literacia financeira, responsáveis pela disseminação deste conteúdo aos seus alunos.
Do ponto de vista financeiro, desmistificou a ideia de que só deve poupar quem ganha muito, aconselhando que antes de qualquer gasto deve-se retirar parte para a poupança e não o contrário.
Os críticos afirmam, contudo, que não há poupança porque os salários mal dão para viver.
“Não é possível fazer poupança”, disse um trabalhador, acrescentando que recebo 50 mil kuanzas.
"Vou fazer poupança como?”, interrogou esse trabalhador, enquanto um motorista disse ganhar ganhar 40.000 mil, mas com “os filhos na escola não sobra para poupa”.
“Eu quero fazer poupança mas o preço das coisas não permite", afirmou.
Miguel Ângelo Vieira, economista, diz que falar de poupança em Angola é utopia, afirmando que os salários são suficientes apenas para não se morrer de fome.
"Pode-se deixar de viajar para poupar, mas não se pode deixar de viver para fazer poupança, nem se deixa de ter saúde pra poupar”, sublinhou, realçando que "isso de que o angolano não tem hábito de poupar é um estereótipo ocidental e que há que ver Angola com outros olhos".
O economista Faustino Mumbica disse que quem não tem ovos dificilmente pode fazer omeletes.
"Só se pode fazer poupança quando o salário consegue cumprir a sua função básica”, exemplicou.
“Quando alguém nem consegue comprar o pão todos os dias como é que vai fazer poupança?”, interrogou Munbica, para quem “há a possibilidades de se fazer poupança quando pelo menos todas as necessidades básicas são satisfeitas”.