Esta será provavelmente a quadra festiva economicamente mais apertada nos últimos 5 anos para muitos angolanos.
O país vê-se a braços com a crise financeira anunciada há um ano pelo Presidente da República José Eduardo dos Santos. A mesma resulta da queda do preço do petróleo no mercado internacional, mas os seus efeitos atingem não só este sector fundamental para economia angolana, mas alcançam vários outros níveis.
Os cidadãos sentem, sobretudo nesta quadra festiva, os efeitos nefastos desta situação.Para muitos, este será o final de ano mais triste e as causas estão à mostra.
Com o dólar a atingir altos níveis de inflação, o preço da cesta básica no mercado continua a disparar, tendo se verificado em média um aumento, no preço dos bens alimentares e não só, que varia entre 100 à 150 porcento em relação ao mesmo periodo do ano anterior.
Se os adultos sentem no bolso o peso da crise, as crianças sentem-na quando não têm a certeza se a semelhança dos outros, este ano também vai ter direito a brinquedos, já que o Orçamento Geral do Estado revisto para 2015 reduziu muitas despesas, inclusive o cabaz de natal na função pública.
Para quem antes da crise já enfrentava difiuldades para sustentar a família, neste novo cenário a situação terá se agravado.
Nelson Agostinho é lavador de carro há 7 anos, lamenta a situação por que passam os jovens sem emprego ou com uma ocupação como a sua. Tudo quanto quer é um apoio das autoridades no sentido de que a actividade que desempenha para sustentar a família seja respeitada.
Em face deste cenário de crise, Nelson fala com muita mágua sobre a quadra festiva em família. Para ele, a crise financeira não só afecta os funcionários públicos e empresários, mas também os lavadores de carro, já que são estes que fazem os seus salários.
«A economia está dura, mas nós precisamos do Estado para ver se nos ajuda nós como lavadores de carro. Hoje este bocado que consegui não sei como vai ser o jantar em casa amanhã e depois de amanhã. Acho que o natal em casa vai ser triste porque a economia não está boa. A maioria (dos clientes) estão a fazer manutenção em casa».
A semelhança de Nelson Agostinho, o jovem Afonso Sérgio, igualmente lavador de viaturas em Luanda.Ele lamenta que nos últimos dias a situação tem sido difícil e culpa a crise financeira que se instalou no país pelos constrangimentos económicos, sobretudo nesta quadra festiva.
«Está difícil a economia, porque sem a eonomia não podemos fazer nada», disse.
Sustentar a família com o dinheiro adquirido por meio da lavagem de carros na rua nem sempre é fácil, mas com um bom rigor na gestão com o pouco que se adquire é possível alegrar a esposa, os filhos e demais mebros da família.
«Não é um trabalho apropriado. Não é emprego estável, mas dá para “desarrascar qualquer coisa, dá para levar algo em casa», afirmou Morais Viegas, lavador de carro que em véspera da quadra festiva já começou a fazer poupanças para adquirir o seu próprio cabaz de natal.
Se para quem depende de uma viatura suja para sustentar a família esta quadra festiva será triste, para o funcionário público a realidade é a mesma. O actual cenário de crise exige contenção e “travão” nos gastos.
Para dona Tecas neste final de ano muitos angolanos não terão a mesa farta e o que era tradicional em termos de alimentos poderá faltar devido ao atraso no pagamento do salário da função pública que se verifica nos últimos dias.
«Nem todos ainda reeberam salário e o que era de costume não terão», referiu.
Se para uns ter a mesa farta é fundamental para uma passagem de ano tranquila, para outros o mais importante é a saúde, já que o país vive uma situação de crise financeira que afecta todos.
Dona Helena Baltazar, é empregada doméstica, ainda não comprou o seu cabaz de natal devido ao atraso salarial, mas ainda assim tem esperança que a situação financeira conheça contornos melhores, embora a saúde e a paz na sua família sejam os seus maiores desejos para o natal de 2015.
A crise financeira surge numa altura que também se agrava a situação ciclica da seca no Cunene, cujos contornos que vem alcançando nos últimos meses são preocupantes.
A Cáritas de Angola está a levar a cabo uma iniciativa solidária no âmbitto da quadra natalina, sentido de ajudar os povos da região sul de Angola, particularmente do Cunene onde a seca e a fome estão a ceifar vidas humanas.
Para Eusébio Amarantes Director Geral da Cáritas de Angola o que se pretende é «olhar para as questões básicas de produção que o povo tem acesso», já que «não existe segurança alimentar no país».