Um relatório do departamento de Estado dos Estados Unidos aponta Angola como país de "origem e destino" para tráfico de homens, mulheres e crianças para sexo e trabalhos forçados, mas admite esforços governamentais.
O sociólogo João Paulo Ganga olha com preocupação para os dados divulgados, já que o diagnóstico aponta para um aumento do número de crimes de natureza de exploração sexual e infantil para além do “tráfico de órgãos e de pessoas”.
João Paulo Ganga aponta três aspectos fundamentais que explicam o envolvimento de Angola neste fenómeno, entre os quais a permeabilidade da sociedade, que na sua visão favorece o aumento de crimes de vária ordem, e a confusão entre a aprovação de leis e os modelos de socialização que “muitas vezes não coadunam.”
Já o escritor e jornalista Fernando Guelengue entende que esta situação decorre em resultado de uma fragilização das instiuições do Estado angolano, o que dificulta a materialização de políticas adequadas para responder à problemática.
O autor do livro “A pobreza: o epicentro da corrupção em Angola”, que aborda a problemática de exploração de menores salienta que a ausência de condenação de cidadãos que sustentam esta prática incentiva o fenómeno.
O Relatório Global de Tráfico de Pessoas-2015 dá conta da existência de angolanos "forçados a trabalhar" na agricultura, pesca, construção, serviços domésticos e exploração artesanal de diamantes no país.
O documento explica que alguns cidadãos chineses "exploram crianças angolanas" em "fábricas de tijolos, construção e actividades agrícolas" em Angola e que meninas a partir dos 13 anos são forçadas à prostituição.
Refere ainda que rapazes angolanos são levados para a Namíbia para trabalhar no "pastoreio de gado", enquanto outros são "forçados" a servir como "mensageiros" em redes ilegais de importação no comércio transfronteiriço.
A propósito desta situação, o jornalista Fernando Guelengue defende maior engajamento do Estado para que o futuro das crianças não seja comprometido.
Para Fernando Guelengue a tarefa não é só das autoridades estatais, mas de todas as forças vivas do país, incluindo a sociedade civil de forma que se impeça o risco a evolução deste fenómeno criminal em Angola.
“O que o Estado tem feito não é suficiente atendendo aos gritos de socorro por parte da comunicação social, pelas famílias através de todas as vias seja nos media como nas redes sociais onde são publicadas imagens dos ente queridos desaparecidos. O Estado deve melhorar e acelerar os mecanismos de defesa, de controlo e de protecção com vista a dar resposta eficiente da situação”, disse.
Segundo o relatório, o Governo de Angola não cumpre totalmente com os padrões mínimos para a eliminação do tráfico, no entanto, está a fazer esforços significativos para tal.
João Paulo Ganga a pobreza é um dos aspectos que tendencialmente força algumas famílias a se tornarem vulneráveis aos crimes sexuais, dada à incapacidade de muitas famílias gerarem recursos. Porém, aponta a fragilidade do Estado e das suas instituições como sendo uma das razões que alimentam este tipo de situação no país.