Quase duas centenas de trabalhadores da SODIBA não recebem os seus salários há mais de seis meses e anunciaram uma greve de protesto para o dia 8 de Agosto próximo.
“Não temos culpa nem podemos impedir a greve”, afirmou o director de marketing e dos gerentes da companhia Eufrânio Júlio.
Em conversa com a VOA, aquele gestor atribuiu a culpa à Procuradoria –Geral da República (PGR), por intermédio do Instituto de Gestão de Ativos e Participações do Estado (IGAPE), que passou a ser o fiel depositário dos bens da SODIBA, na sequência do arresto, em 2019, das contas então detidas, no grupo, pela empresária Isabel dos Santos.
Eufrânio Júlio diz que “a empresa não tem dinheiro nem para produzir, nem para pagar salários aos funcionários, porque estávamos à espera da PGR, de um aporte capital que iria dar um reforço ao negócio e que até hoje não chegou”.
“Estamos nesta luta à espera da decisão da PGR e do juiz se o aporte capital entra ou não”, concluiu.
Os argumento da SODIBA, então detida pela empresária Isabel dos Santos, contrariam entretanto uma posição do IGAPE em comunicado tornado público a, 14 de março de 2022, na qual esta instituição também negou qualquer responsabilidade nos atrasos do pagamento de salários dos trabalhadores afirmando ser uma “tarefa que compete unicamente à gerência da empresa”.
Aquele órgão da PGR referiu que, enquanto fiel depositário das quotas arrestadas, “nunca assumiu a gestão da referida empresa e que a mesma ainda não foi alvo de qualquer intervenção ou alteração por parte do fiel depositário”.
O IGAPE acrescentou que, por decisão da gerência da Sodiba, em março de 2021, foi celebrado um Contrato de Cessão de Exploração da Unidade Industrial com a Refriango Comércio e Indústria Geral, Limitada, que, nos termos, os mais de 250 trabalhadores transitaram para a Refriango.
Na nota aquele órgão da PGR reafirmou, contudo, que estava comprometido com “a busca de soluções que permitam garantir a continuidade das operações, preservação do valor patrimonial e a mitigação do risco social inerente à paralisação da empresa e, para esse efeito, tem trabalhado com os órgãos intervenientes no processo, para a materialização das referidas soluções”.
Entretanto, e tal como noticiou a VOA, o banco estatal alemão KfW-Ipex- Bank vai pagar uma multa de 150 mil euros por “violação negligente” da lei do país de branqueamento de capitais num caso envolvendo um banco angolano e a cervejeira angolana em que Isabel dos Santos tem grande participação.
Segundo o jornal alemão Suddeutche Zeitung, o banco, que existe para promover exportações alemãs, concedeu um empréstimo ao Banco de Poupança e Crédito de Angola (BPC) de 50 milhões de euros que depois concedeu um empréstimo à cervejeira que era de propriedade parcial de Isabel dos Santos.
A construção de cervejeira foi autorizada por decreto do Presidente José Eduardo dos Santos, ao abrigo do qual foram concedidas isenções fiscais à cervejeira
O empréstimo foi revelado em primeira mão no chamado “Luanda Leaks”, em que documentos relacionados com as operações financeiras do regime de Santos e sua família foram tonados públicos numa investigação de diversos orgãos de informação em vários países, incluindo o Suddeutche Zeitung.
Após a publicação desses documentos, a procuradoria da cidade de Frankfurt iniciou uma investigação contra vários funcionários do banco alemão que foram contudo abandonadas.
Foi no entanto imposta uma multa ao banco porque “ não foi obtido por negligência o consentimento necessário de um nível hierárquico mais alto para a condução de actividades de negócio“, disse o jornal.
O banco confirmou a multa
Isabel dos Santos negou no passado qualquer ilegalidade nesse processo, afirmando não ter qualquer conhecimento do empréstimo da KfW e sublinhou que a cervejeira em que está envolvida é independente do Estado angolano.
A cervejeira de Isabel dos Santos fabrica a marca Luandina e a portuguesa Sagres.
Em Março foi noticiado que a cervejeira - Sociedade de Distribuição de Bebidas de Angola (Sodiba) - tinha evitado a falência com “receptividade dos bancos para reestruturar a dívida”, corte de despesas e a “quase anulação do plano de investimentos”, segundo disse na altura o presidente executivo da empresa, Luís Correia.
Luís Correia tinha anteriormente afirmado que a Sodiba “é uma empresa com necessidade de investimento e onde a engenheira Isabel dos Santos injectou, ao longo dos últimos anos, biliões de Kwanzas para apoio aos défices de exploração, reforço de fundo de maneio e garantia de investimento”
A empresa foi arrestada pelas autoridades angolanas levando à crise que quase provocou a sua falência.