Angola disse esta semana que pediu o alívio da dívida ao G20 e está em negociações avançadas com alguns países importadores do seu petróleo para ajustar as linhas de financiamento, mas espera que não seja necessária mais nenhuma revisão orçamental adicional.
A forte desaceleração económica global devido à nova pandemia de coronavírus levou os preços do petróleo Brent aos níveis mais baixos desde o final dos anos 90 e os futuro petróleo dos Estados Unidos para território negativo pela primeira vez na história.
A queda de preço colocou Angola, altamente endividada, deixou o país numa situação frágil, uma vez que obtém um terço das receitas do estado do petróleo.
De longe, o seu maior credor de Angola é a China. Analistas dizem que Angola tem mais de 20 biliões de dólares em dívida bilateral, com a parte do leão devida à China.
Grande parte do dinheiro foi emprestado para a construção de estradas, hospitais, casas e ferrovias em todo o país. Além da dívida chinesa, Luanda obteve um empréstimo de 3,7 biliões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI) no ano passado. E entre meados de 2018 e medos de 2019 a empresa estatal de petróleo Sonangol pediu emprestado 2,5 biliões a bancos, segundo o FMI.
Cortes forçados na produção petrolífera agravam a situação
Um acordo global de corte da produção de petróleo liderado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) adicionou aos problemas de Luanda. Como membro da OPEP, Angola foi pressionada a cortar as exportações de petróleo a partir de maio. O resultado deixou o país com menos carregamentos e de menor valor para dividir entre pagar a sua dívida chinesa ou encher seus cofres vazios.
As fontes disseram que a estatal chinesa Sinochem receberia cinco carregamentos em julho, abaixo das sete ou oito habituais, enquanto o braço comercial da gigante chinesa Sinopec, chamado Unipec, não receberá nenhuma. A Unipec normalmente recebe de duas a três carregamentos reservados para pagamento da dívida.
A Sonangol, o ministério das finanças de Angola, Sinopec e Sinochem, não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.
O Ministério das Relações Exteriores da China disse na quarta-feira que os departamentos relevantes estavam em contato com Angola sobre seu pedido de alívio da dívida. "Esses empréstimos a troco de petróleo criam uma interdependência mais forte (entre credor e devedor) do que o financiamento tradicional. Essa tática de desviar carregamentos não é nova como vimos em outros lugares", disse David Mihalyi, analista económico do Instituto de Governação dos Recursos Naturais.
O Chade ameaçou cortar os carregamentos para pagar à multinacional britânica durante uma grande reestruturação dos empréstimos em 2017.
Da mesma forma, a República do Congo reduziu muitos carregamentos de petróleo para Glencore e a multinacional Trafigura, à medida que as discussões se arrastavam.
Angola não é o único país africano fortemente endividado com a China.
O FMI e a agência de classificação de risco Moody's já mencionaram as suas preocupações sobre os níveis de dívida na África Subsaariana, particularmente com a China.
(Reuters)