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Angola: Oposição quer fechar cerco à fraude eleitoral, PGR e CNE alertam para crime eleitoral


Assembleia de voto no Uige, Angola, 2017
Assembleia de voto no Uige, Angola, 2017

Em causa, pedido da UNITA para eleitores ficarem perto das assembleias de voto para garantir que seus votos serão contabilizados

A contagem dos votos da eleição do próximo dia 24 a ser feita em Luanda e não nas diversas assembleias de voto espalhadas por Angola tem sido um foco de tensão entre o MPLA, no poder, e os partidos da oposição desde a a revisão da legislação eleitoral.

Na semana passada, o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, pediu aos seus militantes que fiquem perto das assembleias de voto depois de votarem, ou seja a 500 metros dos locais de votação, o que está a está a gerar um braço-de-ferro entre os partidos da oposição e a Comissão Nacional Eleitoral (CNE).

A Procuradoria Geral da República (PGR) já veio a público ameaçar com a “responsabilização penal” aos eleitores que não voltarem para casa depois de exercerem o seu direito de voto.

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O jurista e deputado sem vínculo partidário Lindo Bernardo Tito considera que a permanência dos eleitores “é uma medida lógica e pacífica que responsabiliza o eleitor a proteger o seu próprio voto e forçar a fixação dos resultados” e não deve ser interpretada como uma subversão à ordem pública.

Tito entende, contudo, que a medida tem um efeito meramente persuasivo e psicológico porque não é suficiente para evitar uma eventual fraude eleitoral que, segundo afirma, poderá ocorrer por intermédio da chamada “acta das operações eleitorais”, que não leva a assinatura dos delegados de lista, e que é enviada a Luanda.

“É elaborada apenas pelo presidente e respectivos secretários da primeira mesa da assembleia de voto, já sem os delegados de lista. O problema está exactamente em enviar os dados à CNE”, alerta o deputado.

Clima de tensão

Entretanto, o director do Observador Eleitoral Angolano, Luís Jimbo, acusa a CNE e os partidos da oposição de, supostamente, estarem a criar um “ambiente de tensão e de medo no seio dos cidadãos eleitores que viola o princípio de liberdade do sufrágio eleitoral”.

Em conversa com a VOA, Jimbo aponta o facto de a CNE violar os direitos de circulação e de liberdade dos cidadãos ao obrigar que os eleitores regressem à casa tão logo exerçam o seu direito de voto.

Em relação aos partidos da oposição, aquele líder associativo diz que os mesmos estão a usar os eleitores como meio de pressão para obrigar a CNE a afixar os resultados eleitorais.

“Deviam optar por uma explicação mais pedagógica”, defende Luís Jimbo, para quem “se a lei prevê a fixação dos resultados eleitorais é porque os mesmos são públicos e podem ser livremente consultados pelos cidadãos eleitores”.

O secretário nacional para as eleições da UNITA, Faustino Mumbica, explica à VOA que o seu partido não tem outra escolha, capaz de assegurar a transparência do processo de apuramento dos votos além de pedir a permanência dos eleitores nos locais de votação, “dentro do perímetro de segurança previsto na lei”, para o controlo de voto.

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“É a alternativa que encontramos pela falta de transparência no processo de apuramento”, reforça aquele político, que afirma não fazer sentido “que as pessoas que votam não saibam o resultado da sua assembleia”.

Aquele responsável acrescenta que “a proibição da CNE está a dar razão às pessoas, efectivamente, a que votem e aguardem a fixação dos resultados” e assegurou não haver razões que levem a suspeitas de confusão no processo de votação.

Mumbica considera que a atitude da CNE “está a dar razão às pessoas para que, efectivamente, votem e aguardem a fixação dos resultados”.

O responsável da UNITA para as eleições afirma que “a lei manda que se afixe a acta síntese na assembleia, então nós estamos a dar instruções para que, a uma distância permitida, as pessoas aguardem até que se fixe os resultados e saibam que é que ganhou”.

Avisos da PGR

Para aquele dirigente do maior partido da oposição, “a CNE está a fazer uma fuga e uma fuga em frente no sentido de fugir à transparência do processo”.

Na segunda-feira, 8, o Procurador-Geral adjunto da República, Mota Liz, advertiu, por solicitação do presidente da CNE, que os eleitores e actores políticos que não se portarem de modo cívico estarão sujeitos “ à responsabilização penal”.

Para o magistrado do Ministério Público, “a ignorância ou desrespeito das regras cívicas de convivência, em momentos de euforia política, podem desembocar em acções de responsabilização penal”.

“Nesta janela de oportunidades estamos a combinar acções para que o cidadão saiba os seus direitos e deveres no momento de eleger e como os actores políticos devem portar-se de modo cívico para que as eleições sejam ordeiras e garantam a liberdade e a justeza”, reforçou Mota Liz.

Concorrem às eleições gerais do dia 24 os partidos MPLA, UNITA, PRS, FNLA, PHA, APN, P-NJANGO e a coligação partidária CASA-CE.

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