O processo anunciado pela UNITA, na oposição em Angola, de avançar com a impugnação do Presidente da República por eventuais crimes cometidos, continua a provocar várias reações em Angola e muitas leituras sobre o futuro do país.
Uma destas leituras tem a ver com um problema antigo que afeta Angola, a bipolarização do país entre as duas maiores forças políticas do país, MPLA e UNITA.
Em todo posicionamento social, económico, político ou de outra ordem o seu autor é obrigatoriamente conotado a uma daquelas forças políticas.
As reacções à iniciativa da UNITA de impugnar João Lourenço não foge à regra que existe desde a Independência Nacional, em 1975: Ou se é pró-UNITA ou pró-MPLA.
Joaquim Jaime, jurista e analista político, entende que os motivos dessa bipolarização são culturais e históricos, e qualquer que seja uma terceira tendência fora destas duas organizações é exterminada ou por uma
ou por outra.
Juventude cansada e apelo a protestos
"O ambiente político hoje é hostil, a UNITA e o MPLA monopolizaram tanto e são tão fortes que eles já se tornaram uma forma de ser e de estar na vida de qualquer um em Angola, ou você pensa como UNITA, ou pensa como MPLA, as duas organizações são a continuidade de um processo histórico muito violento, de modo que o país é o que o MPLA e a UNITA traduzem na luta política", afirma Jaime, para quem "o eleitor jovem e alguns com estrutura intelectual sem inclinação nenhuma já estão cansado deste binómio, MPLA e UNITA, que no fundo têm o mesmo processo histórico, o mesmo processo de formação assente sobre as mesmas linhas ideológicas".
Por seu lado, Manuel Mendes de Carvalho Pacavira, conhecido como General Paka, que diz pertencer do MPLA mas que não se revê nos actuais dirigentes do partido no poder, afirma que ambos já deram tudo o que tinham para dar.
"Aqui não há outra saída, temos que sair à rua e manifestar em tudo quanto é canto, é preciso parar este país porque você vai de um lado é o porco, vai para o outro é o javali, as tendências são as mesmas, com esta fome atroz que
assola o povo não há como esperar 10 a 15 anos para resolver o problema da fome, vamos fazer greve, na casa de banho, greve no escritório, no bairro, greve em tudo e paralisar tudo".
Recorde-se que no Parlamento, MPLA e UNITA, juntos, têm 214 deputados num total de 220, sendo 124 do partido dos "camaradas" e 90 do "galo negro".
Os demais assentos estão ocupados pelo Partido de Renovação Nacional (PRS), Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), e Partido Humanista de Angola (PHA), cada um com dois parlamentares.
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