Durante a visita do Primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, a Angola, o presidente angolano, João Lourenço, afirmou que "nunca colocou" a questão das reparações históricas e que não vai ser colocada "nunca", acrescentando que "teria de se mexer em muita coisa" e que os países colonizadores não teriam capacidade de pagar "o justo valor”.
A questão, que havia sido levantada, inicialmente, pelo Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, marcou a conferência de imprensa dos dois chefes de estado. O chefe executivo angolano lembrou que a questão não foi colocada durante os 49 anos de independência do país, comparando-a à questão das fronteiras.
"Esta questão é um pouco como as fronteiras entre os países, esta questão, se é levantada hoje, traz muita discussão e solução nenhuma, porque as fronteiras entre os países, ao longo dos séculos foram mudando", afirmou Lourenço, fazendo referência ao Congo. "Imaginem que Angola vinha com a pretensão de restaurar o antigo Reino do Congo (...) só cria conflitos, eu comparo isso à questão das indemnizações".
Por outro lado, segundo o presidente, os "países colonizadores não teriam nunca capacidade real de fazer a reparação no justo valor. É impossível". João Lourenço crê, ainda, que o tema envolve outros países para além de Portugal, tais como Inglaterra, França, Bélgica ou Espanha, o que conduziria a "uma revolução inimaginável".
"Da parte de Angola, tal como nunca colocámos esta questão, pensamos não vir a colocar no futuro", prometeu o chefe executivo angolano.
Montenegro disse não ter nada a acrescentar às declarações do Presidente de Angola.
12 acordos de cooperação
Luís Montenegro está a realizar uma visita de três dias a Angola, onde anunciou, terça-feira, 23, que aumentou na uma linha de crédito a Angola, prometendo criar "uma nova dinâmica" nas relações bilaterais durante uma visita ao país africano.
Após conversações no palácio presidencial, os dois assinaram 12 acordos de cooperação sobre temas que vão desde a economia à formação profissional e à educação.
Montenegro, que tomou posse em março, disse que a linha de crédito a que Angola pode aceder para contratar empresas portuguesas para trabalhar no país será aumentada de 2 mil milhões de euros para 2,5 mil milhões de euros.
"O nosso objetivo é criar um novo grande impulso nas nossas relações", disse Montenegro, na conferência de imprensa. O Primeiro-ministro descreveu a extensão do crédito como um "sinal de confiança" no futuro de Angola.
Após anos de tensões, as relações entre Portugal e Angola melhoraram desde que Lourenço chegou ao poder em 2017. Portugal retirou-se de Angola sem entregar o poder em 1975 e o país mergulhou numa guerra civil até 2002.
"Queremos maior intensidade e dinamismo nas relações com Portugal", disse Lourenço, nessa mesma conferência de imprensa.
Durante a sua estadia, Montenegro visitará uma feira comercial e o Corredor do Lobito, um projeto ferroviário estratégico que visa ligar melhor as zonas interiores ricas em minerais da República Democrática do Congo e da Zâmbia a um porto angolano no Oceano Atlântico.
A empresa de construção portuguesa Mota-Engil é um dos principais intervenientes no projeto, que é financiado pelos Estados Unidos e por outros países ocidentais.
Fórum