Os órgãos privados de informação em Angola estão a ser “arrasados” pela crise económica e financeira que assola o país nos mais variados sectores. Segundo analistas a situação poderá piorar nos próximos tempos.
A 3 de Maio assinalou-se o 23ºaniversário do “Dia mundial da liberdade de imprensa e de expressão”, no calor do desaparecimento de alguns órgãos de informação por força da crise económica. A situação está a preocupar a classe jornalística onde muitos profissionais estão remetidos ao desemprego.
O Sindicato dos Jornalistas Angolanos preocupado com a situação que tende a piorar nos próximos tempos, congregou a classe, em mesa redonda, para reflectir sobre o melhor caminho a seguir com vista a sair desta conjuntura.
Manter um jornal semanário no mercado está cada vez mais difícil devido aos custos de produção aliados a outras despesas, ademais, nesta altura em que os preços dos combustíveis subiram mais 50 por cento em menos de dois anos.
Por razões de gestão, no final de 2015 o jornal Agora, com 19 anos de presença no mercado angolano, tinha paralizado durante quatro meses, tendo apenas retomado em Março de 2016. Ramiro Aleixo, o seu director, explica que esta publicação precisa de um valor não inferior a 500 mil USD por ano, para manter-se em funcionamento, apesar dos sacrifícios e racionalizações que vem efectuando neste tempo de crise.
Só nos últimos seis meses sairam do mercado perto de meia dúzia de jornais entre estes o A Capital, o Semanário Angolense, o Angolense, o Sol, o Correio do Sul. Uns por razões económicas_e por vontade dos seus proprietários, _outros por motivos até agora desconhecidos, porém o certo é que há já algum tempo que não saiem à rua estas publicações períodicas.
As dificuldades para permanecer no mercado não são apenas dos jornais. As rádios há algum tempo que também vêem perdendo os seus anunciantes, que são as suas principais fontes de receitas.
A estratégia democrática passa pelo financiamento do Estado aos órgãos privados de informação. Luísa Fançony, Directora Geral da Rádio LAC (Luanda Antena Comercial), diz que sobre esta perspectiva, a estação que dirige já tinha dado passos muito avançados nas negociações com o Ministério da Comunicação Social, porém em nada resultou.
“É óbvio que temos que tentar lutar por alternativas”, sublinhou a antiga Directora de Informação da Rádio Nacional de Angola, para quem “dentro de um estrátegia democrática seria bom que os órgãos não deixassem de funcionar”.
Há 3 anos o portal Maka Angola publicou um artigo sobre a situação financeira da rádio Ecclesia, a Emissora Católica de Angola, no qual referia que a estação recebia do Ministério da Comunicação Social uma subvenção na ordem dos USD 50 mil\mês Confrontado os dados, o Director Nacional de Informação, Rui Vasco, referiu que se tratava de um apoio legal e prestado a todos órgãos privados, o que fora desmentido tempo depois pelo director da rádio Comercial Despertar, Emanuel Malaquias.
Para o jornalista Reginaldo Silva, em nome do princípio fundamental previsto na Constituição da República que se chama: Liberdade de imprensa e de expressão, o Estado devia dar igual tratamento a todos os órgãos de informação.
O apoio aos órgãos privados nunca surgiu devido a factores políticos ligado ao facto de “termos no país um partido-Estado”.
“Se o Estado apoia a imprensa pública porque faz parte da sua própria estratégia, tem que tratar de igaul forma a imprensa privada” sublinhou.
Na perspectiva do analista Reginaldo Silva, a compra de alguns jornais privados foi feita com objectivos políticos.
“Compraram o Semanário Angolense, compararam o A Capital, compraram aqui e ali e logo todos nós percebemos que aquilo era «gato escondido com rabo de fora». Foram comprando o objectivos naturalmente políticos e hoje está na cara que estas empresas desapareceram e os jornais foram à falência”, explicou.
Apesar do desaparecimento de muitos jornais, há em contrapartida o surgimento de novas publicações. Contas feitas, nos últimos 3 anos surgiram perto de 10 novas publicações entre as quais o Manchete, A República, o Visão, o Nova Gazeta, o Correio do Sul (já desaparecido), o Grandes Notícias, a Verdade, o Valor Económico, o Mercado entre outros.
Reginaldo Silva questiona o aparecimento de novas publicações, em tempos difíciesi como os atuais. O jornalista defende a necessidade de se apurar, junto de cada órgão, a sua estratégia de sobrevivência diante da factual perda do poder de compra dos cidadãos em face da crise.
Para o jornalista “quem não tem poder de compras não vai gastar 500 kwanzas a comprar um jornal”.
Para contornar as dificuldades de financiamento da imprensa impostas pela crise financeira em Angola a sugestão é “seduzir” os potenciais anunciantes e as novas empresas que vão surgindo no mercado.
A sedução aos potenciais anunciantes não escapa as congregações religiosas, que na visão de Luísa Fançony, não estão a sentir a crise tanto quanto os órgãos de informação.
Para a Directora da LAC, a estratégia passa por procurar mais confissões relgiosoas e, por conseguinte, a largar os seus espaços na media.
Outra estratégia para media sair da crise passa também pela “isenção de pagamento de determinados impostos”.
Ramiro Aleixo concorda com Luísa Fançony criticando uma eventual dúpla tributação em Angola, que na sua visão, a sua eliminação pode contribuir para redução dos custos da produção de jornais.
O Director do Agora chama atenção, por outro lado, à falta de confiança e de apoio da classe empresarial angolana.
Já o analista Reginaldo Silva concorda que com Luísa Fançony e assegura que as igrejas são um modelo exemplar de autofinanciamento.
Para ele, a situação é grave e as coisas vão ficar piores, “não estou a ver as empresas a crescerem novamente. Não estou a ver o nosso Estado a despartidarizar-se e apostar um pouco mais nesta distribuição igual das beneces e dos incentivos, portanto, estamos numa situação difíccil e vamos ter que enfrentar”.
Por fim Ramiro Aleixo fala do rigor e do espírito de sacrifício na gestão dos órgãos de informação para se atenuar a crise. Sobre o desempenho da classe, Aleixo critica o mau serviço público prestado por muitos profissionais que afugentam os apoios da classe empresarial.
Para o jornalista, “as vezes as nossas mensagens, os nossos apelos junto a eventuais patrocinadores ou amigos não enontra eco por causa do ataque que alguém fez. Ainda há dias soube de um caso de chantagem a um gestor feito pelo director de um órgão privado”.
O Sindicato, na voz do seu Secretário Geral promete avançar com outras iniciativas que visam encontrar um caminho para que a crise económica e fianceira de Angola não continue a arrasar os órgãos de informação.
A crise a que estão mergulhados os órgãos de imprensa de Angola é uma das preocupações do Sindicato dos Jornalistas Angolanos que promoveu uma mesa redonda com os membros da classe.