Um grupo de cinco médicos angolanos formados no estrangeiro e ajudados por uns tantos outros enfermeiros prestam semanalmente assistência voluntária a centenas de angolanos sem qualquer custo para os doentes.
A assistência é feita no centro médico da ONAIEP no Bairro 17 de Setembro em Viana, uma área onde milhares de angolanos pobres não tem acesso à outra ajuda médica.
O pessoal do centro trabalha voluntariamente e luta com enormes dificuldades por falta de medicamentos e material para cuidar dos pacientes, adultos e crianças.
A Organização Nacional de Apoio e Inserção dos Estudantes Provenientes do Exterior (ONAIEP) iniciou o centro há alguns anos com vários médicos, mas as dificuldades financeiras de muitos levaram a que o centro hoje tenha apenas cinco médicos e cinco enfermeiros a trabalharem das sete da manhã às 18 horas, atendendo mais de 100 pacientes por dia.
Falando no programa “Angola Fala Só” a dra. Olga Daniel que trabalha voluntariamente no centro disse que o seu motivo para ali trabalhar “é a solidariedade com o povo porque temos que nos colocar na pele dos outros”.
“Temos que sentir o que o povo está a sentir”, disse.
“Vendo a situação de calamidade em que o povo está, situações difíceis, isso criou dentro de mim esta paixão, tenho gosto em ajudar as pessoas”, contou.
A dra. Daniel relatou as dificuldades do centro com falta de medicamentos e material gastável como luvas.
“Muitas vezes temos que pegar os pacientes sem luvas porque nem luvas temos”, disse.
A falta de medicamentos é um problema grave e “às vezes tiramos dos nossos bolsos” para os pacientes poderem comprar os mesmos.
A dra. Daniel disse que muitas vezes é dificil dizer aos pacientes extremamente pobres para comprarem os medicamentos numa farmácia.
“Ficamos sem jeito de falar ... é um povo muito pobre”, disse.
Quando a médica chega ao centro pelas sete da manhã já há pacientes à espera. Muitos começam a chegar às cinco da manhã.
“Muita gente vem de muito distante porque o centro da ONAIEP é o único nesse bairro “, disse a médica.
“Muitas pessoas vêm de muito longe e como não têm dinheiro vêm a pé”, acrescentou.
A dra. Olga Daniel disse que ela própria para chegar ao local tem que apanhar “quatro ou cinco táxis” e disse não haver qualquer apoio institucional ao centro excepto na entrega de vacinas em número suficiente para atender à demanda.
A médica disse que o centro gostaria de ter uma ambulância para transportar os doentes mais graves para outros hospitais, o que lhes permitiria também trabalhar 24 horas.
As doenças mais comuns são a malária, febre tifóide e diarreias agudas, disse.
O saneamento básico é muito fraco, as pessoas “bebem água não tratada e as crianças brincam no lixo”.
“Onde as pessoas fazem as necessidades é muitas vezes onde as crianças brincam”, acrescentou.