A governação de João Lourenço trouxe para a os meios de informação angolanos uma abertura impensável na era de José Eduardo dos Santos que é preciso defender e aprofundar, disseram no programa “Angola Fala Só” Teixeira Cândido, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas e André Mussamo, director do MISA-Angola e docente de jornalismo.
Respondendo à questões apresentadas por ouvintes pelas redes sociais, Mussamo disse que as expectativas das pessoas após a subida ao poder de João Lourenço eram superiores àquilo que o governo introduziu mas hoje “há alguma liberdade embora eu ache que deveríamos ter feito mais”.
“Quando me lembro do que fazíamos a 20 ou 25 anos atrás é uma viragem de 360 graus, e portanto seríamos desonestos se disséssemos que não houve mudança”, afirmou Mussamo que a outro passo do programa recordou também que em tempos passados “havia rostos proibidos na televisão e vozes na rádio”.
“Houve um desbloqueio e penso que continuamos a viver essa realidade”, disse.
Teixeira Cândido recordou por seu turno que Angola continua muito em baixo no “ranking” da organização Repórteres Sem Fronteira, onde ocupa o lugar 160. O secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas fez notar a “legislação muito restritiva” que requer “montantes astronómicos” para se poder criar uma rádio ou estação de televisão.
No que diz respeito ao uso da liberdade pelos jornalistas “se saírmos de Luanda a realidade é muito agreste porque aí os governadores são absolutistas”.
“Nas províncias, os jornalistas de orgãos privados têm relações muito difíceis com os governadores” porque qualquer assunto abordado que não esteja na agenda oficial “irrita o governador”, disse Cândido para quem contudo “há hoje uma diferença (em relação à governação de Eduardo dos Santos)”.
“Hoje há diálogo, hoje as entidades políticas estão mais disponíves para ouvir”, disse o secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas que frisou que após 20 anos de batalha durante a governação de José Eduardo dos Santos foi só com a chegada de João Lourenço que a Rádio Ecclesia conseguiu alargar o seu sinal a todo o país.
Texeira Cândido defendeu o pedido de ajuda ao estado feito pelo sindicato e por orgãos de informação privados afirmando que isso não põe em perigo a independência desses meios de comunicação cujas finanças se encontram em “estado crítico” com a possibilidade de dezenas de despedimentos.
Cândido e representantes de alguns desses orgãos de informação reuniram-se na quinta-feira com o ministro da comunicação social para discutir essa ajuda depois do sindicato ter endereçado uma carta ao presidente João Lourenço pedindo ajuda devido à situação crítica que se vive nesses orgãos.
O jornalista e sindicalista recordou que a própria lei angolana prevê que o estado “crie incentivos” para a comunicação social e o pedido de ajuda “é uma oportunidade para impulsionar o estado a aplicar essa lei”.
“Compreendo que hajam esses receios (de perda de independência)”, disse Teixeira Cândido para quem contudo “a independência editorial dependerá da gestão (desses meios de informação) e também dos próprios profissionais”.
O sindicalista fez também notar que “hoje é muito difícil controlar a informação porque há sempre o acesso às redes sociais.”
“Não vale a pena termos a ilusão que basta haver apoio para que o estado passe a controlar as linhas editoriais”, disse.
Ambos os covidados do “Angola Fala Só” concordaram que a Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERCA) pouco ou nenhum propósito serve.
“A ERCA é um pouco de perda de tempo, é jogar dinheiro ao vento sem acção efectiva”, disse André Mussamo.
“Não é carne nem é peixe ...é mais um orgão para pagar salários a uma dúzia de pessoas”, acrescentou o director do MISA- Angola.
Teixeira Cândido disse por seu turno que a ERCA “na prática não tem grande expressão”. Não tem orçamento e não tem poderes como de outros organismos do género noutros países, disse.
“Nasceu para morrer à nascença”, acrescentou Teixeira Cândido.