No debate com os ouvintes e internautas do programa Angola Fala Só, o deputado independente eleito pela UNITA pelo círculo de Cabinda, Raúl Tati, disse que é inevitável falar das detenções que têm acontecido no enclave, especialmente numa altura em que o Presidente angolano tem demonstrado alguma abertura.
Para Raúl Tati, é "incompreensível que em Cabinda esteja a acontecer o contrário", referindo-se à proibição das manifestações e consequentes detenções.
Tati, que defende o diálogo e que considera que todas as hipóteses devem estar em cima da mesa, seja autonomia, independência ou outro tipo de estatuto, diz que "é uma besteira" prender pessoas e proibir manifestações.
O deputado acrescenta que quanto mais repressão houver em relação à expressão política e cívica em Cabinda, mais radicalizado se torna o problema do enclave.
"Muita parra, pouca uva" (...) Governo dá com uma mão e tira com a outra
Questionado por um ouvinte se acredita nos "ventos de mudança trazidos por João Lourenço", Tati mostra reservas em relação ao que é o discurso e o que é a prática, considerando tratar-se de "muita parra, pouca uva".
Ainda sobre a mudança, usou o exemplo de Cabinda para dizer que o que está a acontecer no enclave é "uma evidência que os métodos do MPLA são os mesmos" e mencionou também o aumento de 1000 por cento da tarifa do passaporte.
"Mesmo com o reajuste salarial, o que vejo é que o Governo está a dar com uma mão e a tirar com a outra".
Tati, que é deputado independente pela bancada parlamentar da UNITA, afirmou que quando tem a palavra no Parlamento trata Cabinda como "província ultramarina de Angola", e lembrou que para bom entendedor meia palavra basta.
O convidado do Angola Fala Só deste 8 de Fevereiro afirmou que se hoje ele está de facto pela bancada do grupo parlamentar da UNITA "é justamente porque a UNITA assumiu um compromisso político de que uma vez no poder iria trabalhar, juntamente conversando com os cabindas, conferir um estatuto mais evoluído, de Estado autónomo (...) esta foi de facto a grande motivação que me trouxe ao Parlamento angolano".
Quando questionado se o diálogo com o Governo é a única forma de resolver os problemas não só de Cabinda, mas de Angola de modo geral, Tati disse que a UNITA está a fazer uma luta política com o objectivo de salvaguardar todos os cidadãos e que "quem está cansado é o MPLA, que em 43 anos não conseguiu fazer nada".
Para o convidado, o que falta é coragem para se discutir "sem tabus a situação de Cabinda".
Raúl Tati deixou uma avaliação negativa à governação de João Lourenço.
Em referência ao relatório da Freedom House que elogia Lourenço, Tati diz que quem faz os elogios sabe o que espera por trás deles, acrescentando que não está aqui para elogios e que não concorda com esses elogios.
"Fazer elogios ao Presidente da República, de algum modo, é ignorar o que se passa na vida dos cidadãos no dia-a-dia. Mas não houve nenhuma mudança significativa na vida dos angolanos", concluiu.