A “Operação Transparência” visa repor a ordem nas províncias angolanas mais afectadas pela imigração ilegal mas é preciso que todo o processo seja levado a cabo com transparência, disse o padre Celestino Epalanga, director nacional do Serviço Jesuíta para os Refugiados em Angola.
Epalanga falava no programa “Angola Fala Só” no qual o repatriamento de centenas de milhares de imigrantes ilegais congoleses e a presença de refugiados desse país em Angola estiveram análise.
Muitos dos ouvintes mostraram-se indignados pelo facto de as autoridades angolanas terem permitido a entrada de tantos imigrantes ilegais, chegando a reflectir alguma animosidade para com os congoleses.
Muitos dos ouvintes sublinharam que foram fornecidos a esses imigrantes cartões de eleitores que lhes permitiram votar nas eleições angolanas.
O ouvinte Jordan Muacabinza, residente na Lunda Norte, disse que há imigrantes ilegais de outros países como Senegal, Mali e Gana que continuam a operar no país ilegalmente.
Eles, disse Muacabinza, exploram diamantes e sem qualquer benefício para os angolanos ou “para os cofres do Estado”.
“O Governo provincial é o co-autor na entrega de cartões de eleitores aos cidadãos congoleses para votarem no partido no poder”, acusou Muacabinza, para quem e deve instaurar um processo-crime contra os responsáveis.
O padre Epalanga, por seu lado, disse haver cidadãos de outros países que não congoleses que foram presos, entre eles 89 imigrantes que foram levados e detidos em Luanda.
Aquele religioso fez notar que o próprio Governo disse que a “Operação Transparência” só vai terminar em 2020.
Celestino Epalanga compartilhou a preocupação de ouvintes sobre o encerramento de cooperativas de angolanos nas zonas de diamantes.
“O Governo não pode ficar pávido e sereno vendo essas pessoas sem nada para sobreviverem”, defendeu o clérico, acrescentando que "tem de arranjar mecanismos para que essas possam viver”.
O padre Epalanga destacou que Executivo é soberano para impor a ordem numa situação de desordemm mas “tem que respeitar a dignidade da pessoa humana”.
“Tem que se evitar violação a dos direitos humanos”, acrescentou o director nacional do Serviço Jesuíta para os Refugiados em Angola.
O padre Jesuíta fez notar que para além da extracção dos diamantes os garimpeiros criaram enormes problemas ambientais com o abate de árvores e desvios de rios.
Por outro lado, ele concordou com a declaração da Alta Comissária dos Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que disse que a expulsão de centenas de milhares de congoleses poderá reacender conflitos étnicos na província congolesa do Kasai.
“A estabilidade de Angola também depende da estabilidade do Congo”, sublinhou o padre Epalanga que disse ser preciso haver justiça para responsabilizar “aqueles angolanos e estrangeiros que não são congoleses que usaram muitos desses pobres miseráveis e que serviram de mão-de-obra barata”.
O padre Epalanga disse faltar em Angola “uma politica migratória clara” e “uma política de integração”
Interrogado sobre a corrupção em Angola o clérico disse haver “uma crise social e de valores tremenda”.
“A corrupção e a falta de transparência é uma crise profunda, social, de valores, uma crise do próprio homem angolano e também uma crise espiritual”, acrescentou.
No programa, o Padre Epalanga revelou que existem actualmente em Angola 22.688 refugiados congoleses, estando 14.247 no campo do Lóvua e 8.441 no Dundo.
Ao contrário do que se possa pensar muitos dos refugiados são profissionais, como professores e médicos.