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Angola Fala Só - José Júlio: "Precisamos de uma comissão da verdade sobre o 27 de Maio"


José Júlio “Relâmpago,” ex-militar das FAPLA e sobrevivente do 27 Maio
José Júlio “Relâmpago,” ex-militar das FAPLA e sobrevivente do 27 Maio
José Júlio: "Precisamos de uma comissão da verdade sobre o 27 de Maio"
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Só uma “Comissão da Verdade” em que todos tenham que testemunhar poderá sarar as feridas do 27 de Maio de 1977, disse no programa “Angola Fala Só” José Júlio “Relâmpago” que foi preso e torturado na repressão que se seguiu ao que o Governo diz ter sido uma tentativa de golpe de estado por apoiantes de Nito Alves nesse dia.

Júlio era militar na Nona Brigada da Infantaria Motorizada das FAPLA que, segundo disse, foi alvo de repressão intensa por ter estado aliada a Nito Alves.

Júlio que descreveu em detalhe torturas a que foi submetido na prisão de São Paulo em Luanda disse ser difícil para aqueles que passaram por essas sevícias aceitarem o conceito de reconciliação.

“Eram piores que os PIDES (polícia política portuguesa). Como é que nós podemos reconciliar com pessoas que vêm fantasmas?” interrogou afirmando ter havido “uma matança” difícil de imaginar em que pessoas foram presas e desapareceram apenas por terem tido contacto com alguém ligado a Nito Alves ou aos seus apoiantes.

“A reconciliação não é uma coisa de brincadeira”, disse fazendo notar que há muitos que perderam os pais e mães quando eram criança.

“Eu sugeria que o Presidente João Lourenço criasse uma Comissão da Verdade em que cada um fosse chamado a dizer o que fez e talvez assim nós pudéssemos reconciliar”, disse o antigo militar.

Interrogado sobre a decisão do Presidente João Lourenço de formar uma comissão para organizar uma homenagem a todas as vítimas da violência em Angola e a indemnizar famílias dos afectados, José Júlio disse que “a ideia é bem vinda” mas fez notar que, na sua opinião, o Governo angolano está repleto de projectos que nunca são implementados.

“É preciso ver para crer”, disse.

O antigo preso do 27 de Maio afirmou ainda que não será difícil saber onde foram sepultados as vítimas porque os que cometeram os massacres ainda estão vivos e “estão no Governo e no Parlamento”.

José Júlio identificou o cemitério Catorze em Luanda como um dos locais e o Moxico como uma das províncias onde foram mortos milhares de pessoas.

O antigo militar detalhou arbitrariedades e torturas a que os presos foram submetidos algo que uma ouvinte disse no programa o ter deixado chocado “e de boca aberta”.

José Júlio disse que muitas das vítimas de tortura deparam ocasionalmente com aqueles que os torturam e estes “fogem”.

“Relâmpago” afirmou que há um interesse dos jovens e dos angolanos em geral saberem o que se passou no 27 de Maio e exortou os ouvintes a contactarem a Fundação 27 de Maio para saberem os pormenores desse período brutal da historia de Angola.

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