Os principais partidos políticos angolanos têm que se comprometer com “os valores republicanos” da tolerância, do diálogo e da igualdade, disse o professor universitário e cientista político Rui Kandove.
Ao falar no programa “Angola Fala Só”, Kandove sublinhou que o eleitorado angolano está hoje mais maduro e mais consciente das suas opções e problemas pelo que as lideranças partidárias devem mostrar mais tolerância política.
Para aquele cientista político, o grande problema de Angola "é saber se há da parte do poder instituído e das outras forças políticas um comprometimento com os valores republicanos”.
“O Estado não pode ser um agente gerador de conflictos, o Estado não pode ser um instrumento a favor de grupos particulares e tem que servir a todos na mesma proporção”, afirmou.
Para Kandove, o Estado "tem de prestar atenção à UNITA, tem de prestar atenção à CASA-CE, à FNLA, à APN, tem de olhar para todos da mesma maneira”.
A necessidade de diálogo e de um Estado que sirva a todos os angolanos foi o aspecto central da abordagem daquele professor às diversas questões apresentadas por ouvintes.
“Não podemos olhar para os outros como eternos inimigos”, frisou Rui Kandove que propôs que os dirigentes das principais formações políticas mantenham diálogos públicos ou se convidem mutuamente para refeições de modo a mostrar que pode haver diálogo e tolerância política dentro das diferenças partidárias.
“Andar para a frente envolve tolerância”, acrescentou aquele cientista político, considerando que "uma democracia não é definida só pela realização de eleições, mas que há outros factores que têm de ser tomados em conta, nomeadamente a liberdade de imprensa e de expressão".
Interrogado por um ouvinte sobre a qualificação que dava a Angola como democracia numa escala de 0 a 10, o professor disse "5", e explicou que "estamos ainda a aprender”.
Para Kandove, os problemas políticos de Angola começaram com a não aplicação dos acordos de Alvor para a independência do país.
“O 11 de Novembro foi o pecado original”, disse, recordando que não houve as prometidas eleições antes da proclamação da independência.
O professor Kandove afirmou que num futuro próximo, as organizações da sociedade civil irão jogar um papel importante na cena politica angolana.
“Há um desencanto com a cena politica e, portanto, as pessoas não se identificam com partidos políticos”, assegurou, adiantando que "uma terceira via não é um outro partido politico, mas a sociedade civil”.
Vários outros temas foram abordados pelos ouvintes entre os quais as constantes deslocações do Presidente José Eduardo dos Santos à Espanha em viagens “privadas” que se dizem destinam-se a tratamentos médicos.
A falta de informação sobre a verdadeira natureza dessas viagens tem criado uma onda de rumores sobre o estado de saúde do Pesidente.
“O estado de saúde do Chefe de Estado diz respeito a todos os angolanos”, reconheceu Rui Kandove que considerou de “inconstitucional” a passagem de funções do vice-presidente Manuel Vicente para o chefe da Casa Militar o general Kopelipa, em caso de ausência do primeiro.
Interrogado se considera que a saída de Santos irá provocar mudanças dentro do próprio MPLA, Rui Kandove disse que “o melhor que poderá acontecer ao MPLA é aceitar novos dirigentes”.
“O MPLA precisa de se reencontrar com o seu eleitorado”, concluiu Rui Kandove.