As igrejas devem deixar o processo eleitoral correr todos os seus trâmites legais antes de tomarem uma posição sobre o apelo da oposição para servirem de mediadores, disse o Reverendo Daniel Ntoni Nzinga, da Igreja Evangélica Baptista.
O pastor falava no programa “Angola Fala Só” nesta sexta-feira, 8, em que a controvérsia em redor das eleições esteve em foco.
Ntoni Nzinga afirmou que Angola atravessa “um momento especial” porque estas eleições "trouxeram a possibilidade de mudança já que o próprio partido no poder está a mudar a sua liderança".
Por isso e pela crise económica que abalou o país, Angola está “em condições diferentes” aos processos eleitorais anteriores.
“Isto é um momento histórico, um momento de mudanças, um momento de muitas expectativas”, afirmou.
Interrogado sobre o pedido conjunto dos partidos da oposição para que a sociedade civil e as igrejas sirvam de mediadores no diferendo sobre as eleições, o reverendo Ntoni Nzinga é de opinião que, primeiro, é preciso “saber como as instituições do Estado responsáveis pela gestão de situações como esta vão responder”.
Tendo a Comissão Nacional Eleitoral anunciado os resultados finais, isso “significa que não lidou com as reclamações que os partidos da oposição fizeram de uma maneira que pudesse terminar esse conflito”.
“Isso implica que sejam os órgãos judiciais, por exemplo o Tribunal Constitucional, a ter que olhar sobre o assunto e responder”, sulinhou, reiterando ser "prematuro dizer qualquer coisa sobre o envolvimento da sociedade civil e das igrejas antes do Tribunal Constitucional se pronunciar sobre esses assuntos”.
Para o antigo membros da Comissão para a Paz criada pelas Igrejas de Angola na década de 1990, é bom que se dê tempo aos órgãos competentes para tratarem do assunto”, mas alertou que "a verdade é crucial e é a base de qualquer solução e para a paz” .
“Isso é um imperativo e eu espero que a verdade venha a ser aceite por todos”, acrescentou o pastor que, no entanto, criticou a ausência de monitores das igrejas e da sociedade civil no processo eleitoral, afirmando que “as tensões não surgem no dia do voto”.
“Surgem antes e quando não há um acompanhamento permanente os problemas aumentam e isso é um problema que estamos a viver em Angola”, acrescentou.
Nzinga explicou que há uma lição a ser retirada: "o processo eleitoral não deve começar a ser organizado seis meses antes das eleições, mas cinco anos antes".
Interrogado se considerava as eleições de “livres e justas”, o reverendo Ntoni Nzinga respondeu que “em termos de votação foram livres”.
No dia da votação, explicou, "as pessoas puderam deslocar-se às urnas sem problemas e votar, mas há muitas situações concretas que devem ser explicadas”.
Entre elas, Nzinga citou o facto de muitas pessoas “terem sido impedidas de votar” por terem sido colocadas em mesas de voto distantes ou por não estarem nas listas.
"Também houve problemas com as listas finais dos votos", acrescento.
O religioso frisou o civismo dos angolanos no dia das eleições, que clasificou como “uma lição aos que estão na posição de liderança”.
“Por isso eu tenho a certeza absoluta que vamos ultrapassar esta situação continuando a falar”, concluiu o reverendo Ntoni Nzinga.