"O MPLA não pergunta pelas cores partidárias quando debate programas de desenvolvimento", disse o representante daquele partido no Uíge, Mendes Domingos.
O dirigente falava no programa Angola Fala Só, emitido nesta Sexta-feira, 5, a partir da cidade do Uíge, com a participação de Felix Simão Lucas, da UNITA, e José Rodrigues Baião, da CASA-CE, além de cidadãos que colocaram várias perguntas aos convidados.
O programa teve como tema o desenvolvimento económico na província, mas foi uma oportunidade também para se discutirem outros temas, desde a educação à alegada discriminação contra outras forças partidárias.
Mendes Domingos disse que quando se elaborou o programa de desenvolvimento da província do Uíge “houve seminários para consultas, em que se ouviram as opiniões de várias pessoas”.
Segundo Domingos, o próprio programa Angola Fala Só, com a presença de público e de representantes de outros partidos, constitui prova de que o MPLA não se afasta de ouvir a opinião de pessoas e nem pergunta pelas cores partidárias.
Por seu lado, o representante da UNITA disse que essa falta de diálogo com a oposição para ouvir as suas opiniões é uma realidade, que não beneficia o próprio partido no poder.
"Onde não há desafio, não há desenvolvimento”, disse Felix Simão Lucas da UNITA.
Café, a alavanca do Uíge?
Sobre o potencial da agricultura no Uíge, os representantes dos partidos concordaram todos que esse potencial não se resume ao café: "O café não é a base-chave para o desenvolvimento da província, a terra do Uíge é muito rica", disse o representante da UNITA, acrescentando que é preciso ver a agricultura na sua "globalidade" e apelando ao governo para diversificar esse investimento, pois acredita que dessa forma a província iria desenvolver em menos de um ano.
O MPLA, por seu lado, lembrou que existem outros programas que servem de alavanca ao desenvolvimento da província, referindo-se ao Programa Jovem que conta com a atribuição de táxis e de crédito aos jovens, bem como a dois projectos de grande dimensão: projecto Fazenda em Sanza Pombo e a fábrica de leite no Bungo.
Mas para a quem são atribuídos os créditos?
Segundo a UNITA, há uma "grande preocupação" no que respeita à atribuição de créditos. Felix Simão Lucas disse no Angola Fala Só que "a cedência dos meios financeiros continua a ter preferências. Um jovem para ter um crédito precisa de ser da JMPLA".
José Rodrigues Baião, da CASA-CE, apontou a corrupção e a má governação, bem como a partidarização das instituições como os obstáculos à melhor distribuição daqueles meios e sérios entraves ao desenvolvimento do Uíge, referindo ainda que são problemas não exclusivos à província.
Obras mal acabadas
Na plateia muitas foram as críticas às obras inacabadas ou prometidas e "nunca" começadas.
Mendes Domingos defendeu que no que toca à habitação o Governo atribuiu o que se chamam de "casas evolutivas", o que significa que "os propietários têm que ser responsáveis pelas melhorias das suas casas".
O representante do MPLA fez ainda menção à baixa do preço do barril do petróleo como factor que abrandou algumas obras.
Rodrigues Baião apelou que o Governo "fiscalize bem as obras que estão inscritas no Programa de Investimento Público, porque muitas das empresas contratadas recebem dinheiro e não terminam as obras".
O representante da CASA-CE acrescentou ainda que a contribuição dos partidos nos processos de decisão que conduzem ao desenvolvimento do país, de um modo geral, "é fictícia".
"Vamos ter paciência", Mendes Domingos
"Se podemos ver melhorias na educação no Uíge, a Saúde o pior problema", ressalvou Felix Simão Lucas: "Há postos que só foram inaugurados para inglês ver", respondeu o representante da UNITA a um dos participantes que referiu a saúde como um ganho na província do Uíge.
Perante os números apresentados por Mendes Domingo, para corroborar essas melhorias, Simão Lucas aferiu que a "estatística existe como parede, mas não se faz sentir na vida humana".
O representante do MPLA comentou ainda que que existem hoje muito mais licenciados e mestres do que alguma vez houve no tempo colonial. "Vamos ter paciência", rematou.