Cerca de 30 por cento dos investimentos públicos do Estado angolano foram usados nas obras a que se destinavam, revelou o economista angolano Precioso Domingos.
Ao falar no programa “Angola Fala Só” da VOA, Domingos afirmou que entre 2012 e 2015 foram gastos 104 mil milhões de dólares em investimentos públicos.
“Cerca de 30 por cento foram para as obras”, explicou o economista, para quem o restante perdeu-se num sistema em que “a corrupção é muito elevada”.
Por outro lado, mesmo os fundos que foram gastos nas obras foram aplicados em obras de má qualidade por falta de controlo e fiscalização.
“Temos que olhar para a qualidade dos investimentos públicos”, defendeu Precioso Domingos, que avisou que a situação económica dos angolanos deteriora-se a cada dia, ao ponto de o próprio Governo apontar um crescimento económico de um por cento, enquanto outras estimativas que apontam para 0,6 por cento.
Tendo em conta que o crescimento populacional é de 2,8 por cento, alertou que só se pode concluir que a situação económica dos angolanos vai piorar.
“A pobreza vai aumentar”, garantiu Precioso Domingos, que fez notar que a situação económica angolana está apanhada numa rede de menos dólares, maiores dívidas e desvalorização da moeda nacional.
Angola, para o convidado do Angola Fala Só, tem de usar actualmente 32 por cento dos seus gastos no pagamento de dívidas.
Precioso Domingos fez notar que actualmente o salário mínimo nacional é de 17.000 kwanzas, enquanto o cabaz de compras custa 41.000.
A queda do poder de compra dos angolanos foi de 35 por cento entre 2012 e 2015, sem levar em conta dados de 2016, tendo por isso concluído que "a inflação ronda os 37 por cento".
O economista disse, por outro lado, que uma verdadeira diversificação tem que ser feita “com produtos exportáveis”, não se devendo confundir diversificação com substituição de importações.
Domingos fez notar que Angola é a segunda economia menos diversificada do mundo (a primeira é o Iraque) e em que 20 por cento dos ricos controlam 80 por cento da economia, o que descreve “os problemas que existem na distribuição de rendimentos”.
A actual crise económica, afirmou o economista, não se deve só à queda do preço do petróleo, mas ao modelo económico que deve ser alterado.
Precioso Domingos lembrou ainda que os investimentos na agricultura dependem da reforma do sector para garantir títulos de propriedade.
É que, para ele, “ninguém vai investir em terras que o Governo depois pode confiscar”.
Interrogado sobre os benefícios do turismo, o economista concordou que poderia ser uma fonte de rendimentos imediatos, mas fez notar os entraves burocráticos que existem para a entrada de turistas.
“Como se suspeita de tudo e de todos, é difícil obter vistos”, afirmou Precioso Domingos, fazendo também notar os entraves que aumentam os custos dos hotéis, como a falta de uma rede eléctrica e de abastecimento de água.