Há uma diferença “substancial e abismal” entre a governação de João Lourenço e de José Eduardo dos Santos, disse a jornalista Luísa Rogério.
Ao participar no programa “Angola Fala Sá”, a antiga dirigente do Sindicato Nacional dos Jornalistas abordou também a questão da igualdade do género, afirmando que nos meios de informação angolanos “a presença feminina vem crescendo”.
Sem ter números oficiais, Rogério disse estimar em cerca de 30 por cento o número de mulheres que trabalham nas redacções angolanas.
Contudo, esses avanços não se reflectem a nível das direcções desses mesmos órgãos de informação, disse.
Interrogada sobre se o assédio sexual existe na imprensa angolana, Luísa Rogério afirmou que “há alguns problemas” nesse capítulo.
“Eu como mulher sinto e sei de coisas”, disse afirmando que em alguns casos houve promoções que deixaram interrogações.
Ela fez notar contudo que é extremamente difícil provar casos de assédio sexual e que há também a tendência de “culpabilizar a vítima”.
Rogério, que é também membro do Fórum para a Igualdade do Género, afirmou haver também a tendência no sistema judicial de “favorecer os mais fortes”.
No que diz respeito à situação política com o novo presidente João Lourenço, a Grande Repórter do Jornal de Angola disse que inicialmente também tinha sentido dúvidas quanto à possibilidade de mudanças com o novo Presidente mas agora, diz, “já sinto uma diferença substancial entre João Lourenço e José Eduardo dos Santos”.
A nível da informaçã reconheceu que “há mais abertura” e agora “já é possível ver o telejornal e ler o Jornal de Angola”.
Contudo, fez notar que isso não se reflecte em todo o país, pois em Angola há “duas velocidades”.
“Há algumas províncias que continuam no passado”, afirmou para sublinhar que há no entanto “uma diferença abismal entre o passado e o presente”.
A conhecida jornalista reiterou no entanto que há ainda “retrocessos” e citou como exemplo a nomeação para cargos públicos de pessoas que “já deram o que tinham a dar”.
Luísa Rogério fez notar a diferença de atitude das autoridades da Sonangol ao anunciarem publicamente a ocorrência de irregularidades na transferência de fundos algo que não teria ocorrido anteriormente.
“Não há qualquer semelhança entre João Lourenço e José Eduardo dos Santos e a mudança não é só nominal”, afirmou, reconhecendo no entanto que a “nível prático”, das condições de vida das populações, ainda nada mudou.
Mas, disse, João Lourenço “dá mostras de pretender ouvir toda a sociedade” e “a oposição é tratada com muita dignidade”, "trouxe a esperança”.
No Dia da Mulher Angola, e interrogada sobre a perseguição que é feita às “zungueiras” (vendedeiras de rua) pela polícia, Luísa Rogério respondeu que isso é algo que “fere a alma das pessoas”.
“A zungueira é o reflexo da realidade dolorosa da mulher angolana”, concluiu a jornalista.