Aqueles que detêm o poder devem abrir-se às demais vozes, disse o padre Benedito Kapingala que, no programa “Angola Fala Só” da VOA nesta sexta-feira, 13, lançou um forte apoio à tolerância política por parte de todos os angolanos.
O padre Kapingala, que é professor e também activista social, começou por afirmar que devido à crise económico-financeira a paz em Angola “está em banho-maria”.
“Há muita violência à flor da pele, as pessoas estão muito nervosas, toleram pouco e mesmo as autoridades quando deparam com uma pequenita manifestação respondem de forma musculada”, disse Kapingala que recordou o papel da igreja na promoção da paz durante o conflito armado no país.
Nessa altura, lembrou, “a voz alternativa foi a Igreja Católica” que sempre defendeu o diálogo como meio de resolver os conflitos.
“Aqueles que detêm o poder efectivo e o poder legitimado pelo voto devem abrir-se às demais vozes e é isto que muitas vezes falta”, afirmou o prelado para quem a actual crise económica pode servir para se poder imaginar meios de se ter “uma vida melhor, uma sociedade angolana participativa, activa e criativa”.
O padre Kapingala alertou para a possibilidade de a crise económica acabar num “descalabro” porque ninguém “aponta soluções participativas”.
Interrogado sobre membros da igreja que apoiam o Governo angolano, o padre Benedito Kapingala disse que “a verdade não tem pátria e não existe a verdade do regime e a verdade do não-regime”.
Muitas vezes, disse, aqueles que dizem a verdade que coincide com um posição do Governo são acusados de serem “lambe botas”
“Não digo que não existam padres colados àquilo que as pessoas chamam de ´o regime´, mas a verdade existe independentemente de quem a queira definir”, afirmou.
O prelado rejeitou também a noção de que “os padres não se devem meter em política”.
“Não existem fronteiras entre o acreditar em Deus e o acreditar na pátria”, respondeu, recordando o papel de padres na luta pela independência do país.
“A pátria é de todos e não existe a pátria dos não religiosos ou políticos”, disse acrescentando que estão errados aqueles que “questionam o pronunciamento do bem comum por parte dos padres”.
“O que não devemos fazer é política partidária aberta”, acrescentou.
Interrogado sobre a liberdade de expressão em Angola, Benedito Kapingala disse que ele é inexistente, lamentando a falta de acesso a órgãos de informação por parte de grande parte dos angolanos.
Essa falta de liberdade de expressão vai “afectar negativamente” as próximas eleições, disse.
“Não é possível falar de democracia se não há acesso à livre expressão, à livre informação e à verdadeira informação”, afirmou, acrescentando que ter “muitos jornais ou muitas televisões” não significa necessariamente que há liberdade de expressão se todos dizem a mesma coisa”.
No Chipingue, onde está estacionado, “é difícil imaginar que estamos no século XXI no que diz respeito à liberdade de expressão”, disse Kapingala, reiterando que a Igreja Católica “foi sempre e continua a ser pela paz”.
No que toca aos hospitais, diz que onde vive a situação é “verdadeiramente crítica” e avisa que pode evoluir para “um descalabro total”.
Esta situação, continuou, não se deve só à crise económica, mas “também
à falta da capacidade criativa e imaginativa de quem nos governa”.
Noutro tema, também a pedido dos ouvintes, o padre Kapingala manifestou grandes dúvidas de que o Governo venha a autorizar a extensão da Rádio Eclésia a todo o território.
“Creio que enquanto continuar esta visão um bocado raquítica de olharmos para os meios de comunicação social como primeiro poder pela negativa a Eclésia nunca se vai estender atodo o país”, disse Kapingala para quem essa extensão é impossível, ao mesmo que criticou a tendência de “anestesiar e domesticar a capacidade critica do povo”.
Em contraposição, ele defendeu a alternativa de criar rádios a níveis das dioceses.
No final do programa, o prelado lançou um apelo à tolerância, afirmando que “ninguém vai fazer Angola sozinho”.
“Os outros, mesmo quando têm ideias muito estranhas à nossa maneira de ver e de pensar, são necessários”, porque "é pensar diferente que faz a democracia”, concluiu Benedito Kapingala.