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Angola Fala Só - Elias Isaac: "Esperamos que João Lourenço tenha coragem"


Elias Isaac
Elias Isaac

Representante da Open Society diz que não se pode mudar em dias um regime de 38 anos, mas lembrou que a política é do MPLA

17 Nov 2017 AFS - Elias Isaac: "Esperamos que João Lourenço tenha coragem"
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Mudanças nos órgãos do Estado com um novo Pesidente “são normais”, disse Elias Isaac representante da Open Society em Angola.

Ao falar no programa “Angola Fala Só”, Isaac disse ser ainda muito cedo para se avaliar se as mudanças de pessoal que o Presidente João Lourenço têm significado ou se se trata apenas de mudanças de pessoas.

Elias Isaac afirmou que durante os 38 anos que José Eduardo dos Santos esteve no poder “criou um sistema que sustentava a sua governação”.

“É muito normal que o novo Presidente também queira criar um sistema de governação, colando em lugares-chave pessoas da sua confiança”, reiterou, afirmando ainda que Angola tem actualmente “uma situação um pouco anormal porque temos um Presidente da República eleito e temos o partido onde o antigo presidente é que manda”.

Interrogado sobre se as modificações na liderança dos órgãos de comunicação estatais tinham levado a alguma modificação na abordagem de temas, o representante da Open Society disse que isso ainda aconteceu.

“Ainda é muito cedo mas em termos de conteúdo, em termos de substância não se veem mudanças substanciais”, respondeu Elias Isaac para quem “só são dois meses e não se pode pensar que o novo Presidente pode do dia para a noite mudar um sistema que durou 38 anos”.

“Seria bom que isso fosse fácil, não é assim”, acrescentou, afirmando ainda que “isso vai exigir do povo angolano alguma paciência e também alguma esperança”

“Os passos que ele está a dar indicam a direcção que ele quer seguir mas vamos ver”, adiantou, expliando que "se são mudanças de cadeiras ou apenas de pessoas o tempo vai provar.

Elias Isaac recordou, noutra parte do programa, que não se pode esquecer que João Lourenço “ governa de acordo coma a política traçada pelo partido”.

“Ele tem os seus princípios, ele sabe como fazer as coisas, mas é a política do partido que venceu as eleições”, disse, recordando ainda que não houve eleições presidenciais directas mas sim a eleição “de uma lista partidária”.

João Lourenço, acrescentou, “está a usar novas formas de fazer o trabalho”

Quanto ao sistema judicial, o representante da Open Society afirmou que o maior problema de Angola “não são as leis mas o cumprimento das leis” e ainda “ no respeito das leis pelos órgãos do Estado”.

A mudança do sistema de justiça vai demorar tempo, considerou Isaac que lembrou que “nos últimos 20 anos construíram-se em Angola pólos de poder económico e politico” e qualquer reforma vai ter pela frente pessoas que detêm o poder politico e económico do país.

Elias Isaac afirmou que nunca há investigações em Angola sobre personalidades envolvidas em corrupção porque “parece que todo o mundo tem medo”.

“Parece que todos nós estamos ensopados em gasolina e ninguém tem coragem de acender um fósforo”, acrescentou.

Interrogado sobre a tensão politica que ainda se vive em Angola, Isaac disse que o problema se deve ao facto de “os poderes políticos, especialmente os partidos políticos, não aceitarem a constituição de uma comissão de verdadee reconciliação em Angola”.

Para ele, "preferiu-se sonegar, preferiu-se reprimir toda a injustiça e todas as causas da guerra, tudo aquilo que foi erro preferiu-se meter debaixo da alcatifa para se esconder e isso só acentuou o problema”.

Para Elias Isaac, “Angola nunca se reconciliou, nunca houve justiça” e “a cultura de impunidade vem desde a guerra de libertação onde coisas aconteceram de que ninguém quer falar”.

Aquele activista lamentou também que em Angola as pessoas continuem a identificar-se “primeiro como militantes e não como cidadãos”.

“E não só isso porque somos também identificados primeiro como militantes deste ou daquele partido e só depois como cidadãos”, acrescentou Elias Isaac para quem “houve uma política de partidarização não só do Estado mas também das nossas consciências e das nossas relações como angolanos”.

Isaac defendeu também o princípio de eleições autárquicas como resposta à excessiva concentração de poderes, “em que tudo foi centralizado e tudo é decidido lá em cima”.

Elias Isaac recordou ainda que a própria luta de libertação foi feita com violência “e essa violência foi a cultura do poder que durou anos e anos”.

“Não temos em Angola alicerces de paz e enquanto não se quiser falar de uma comissão de paz e reconciliação é porque não existem alicerces”, concluiu o convidado do Angola Fala Só.

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