O café deve voltar a ser uma marcas de Angola no mercado internacional porque traz divisas para o país e é um produto de elevada qualidade. No entanto, o sector que praticamente desapareceu com a guerra, enfrenta vários problemas, desde a insuficiência de técnicos a atraso tecnológico e falta de financiamento, com os produtores a clamarem por ajuda.
Este foi o tema do programa da VOA Angola Fala Só, produzido no Uíge, com a participação de Vasco Gonçalves, do Instituto Nacional do Café, e Eduardo Gomes, do Instituto de Desenvolvimento Agrário, e uma plateia repleta de produtores, agricultores e comerciantes.
Tanto os técnicos como os produtores concordaram que o café encontra a sua melhor “casa” no Uíge, cujos terrenos possuem todas as condições necessárias à produção do bago vermelho, mas as dificuldades são enormes, depois de anos de guerra.
“Até agora o saldo é positivo”, disse Eduardo Gomes, ao comparar as 263 toneladas produzidas em 2002, quando terminou o conflito armado, e as mais de três milhões no ano passado.
“Mas há muitas carências, entre elas a necessidade de mais apoios”, considera Gomes, que, em resposta a pedidos de ajuda de produtores presentes no programa, lembrou que o Estado “tem oferecido carros e tractores, como forma de ajudar”.
Vasco Gonçalves revelou que, no passado, o Estado ajudou com dinheiro, mas, sem retorno nem aumento da produção, decidiu reencaminhar esses pedidos de ajuda para a banca, “existindo agora uma linha de crédito exclusiva para o café”.
Durante um animado debate, houve opiniões divergentes entre o estado actual da produção do café, com alguns produtores a considerarem que 90 por cento da produção é escoada, enquanto outros disseram o contrário.
Para Zacarias Antunes Paque, há muitas dificuldades e o custo do café não paga o trabalho. “Está muito difícil, não se recupera nem 10 por cento do investimento e, por isso, continuamos a pedir financiamento do Governo”, reforçou aquele produtor.
“É inegável que existem problemas”, respondeu Vasco Gonçalves, que defendeu a necessidade de se aumentar a produção do café, com recurso ao financiamento bancário, uso da tecnologia e recurso a novos tipos de plantas, muito mais rentáveis”.
O produtor João Samuel não tem dúvidas. Para ele, os problemas são muitos e “só com apoio do Estado será possível relançar o sector, porque há pessoas que estão a abandonar o café e a procurar outros cultivos”.
O acesso ao financiamento bancário foi identificado como sendo um dos grandes desafios do sector. De um lado, o Governo deixou de financiar para apenas apoiar e dar alguma assessoria técnica, e, do outro, os produtores queixam-se que o retorno é muito lento e que não conseguem ter acesso a esse mesmo financiamento.
Em jeito de proposta, João Samuel defendeu que a banca “dê uma moratória de, pelo menos, quatro anos, o que permitirá aos produtores ter alguma almofada para poderem assumir todos os seus compromissos, tanto junto dos bancos, como dos fornecedores e trabalhadores”.
Os responsáveis do Instituto do Nacional do Café e do Instituto de Desenvolvimento Agrário abordaram os vários instrumentos disponibilizados pelo Estado para ajudar os produtores, como a nível da assessoria técnica, “apesar do reduzido número de técnicos”, bem como das técnicas e novas plantas existentes.
Alguns produtores reconheceram, por outro lado, a inexistência de uma organização que represente os produtores e que funcione como interlocutor junto do Estado e como instrumento de pressão.
Durante cerca de uma hora de conversa, muitos outros temas foram abordados, como, por exemplo, a recusa de algumas pessoas em usarem os terrenos para a produção do café e a necessidade de se promover o seu consumo nacional, de modo que o preço do produto não fique dependente do mercado internacional.
Acompanhe o programa.