"Há um nervosismo no poder que se acentua de dia para dia", disse o cantor Bonga no programa Angola Fala Só.
Bonga respondia a uma questão sobre a situação política no país que foi uma das muitas levantadas por ouvintes de todos os cantos de Angola.
O entrevistado foi peremptório em condenar a recente prisão de vários jovens acusados de conspirarem para derrubar o Governo.
“Não podemos responder a reuniões com pancadarias e prisões”, disse.
“Parem com isso!”, acrescentou o cantor, afirmando que deve haver respeito por todos.
Para Bonga, todos os presos nesse caso devem ser imediatamente soltos porque “o diálogo e as divergências sempre existiram”.
“Ninguém tem verdades absolutas”, disse o cantor a certo passo do programa.
Bonga confirmou ter recebido, no passado, propostas “não oficiais” para ter uma função no Governo.
“Foram propostas às escondidas”, disse, sem que nada fosse revelado oficialmente.
Na conversa de uma hora com os ouvintes da VOA, Bonga confirmou também ter sido recebido pelo Chefe de Estado angolano José Eduardo dos Santos, mas, como acontece com a conversa entre dois angolanos, discutiram “coisas de menor importância e outras mais importantes”.
Interrogado sobre o que tinha levado ao presidente, Bonga respondeu que “foram discos”, assim como quando se encontra com qualquer dirigente.
Bonga reiterou considerar Jonas Savimbi como “um grande homem”.
“Foi um grande homem tal como Samora Machel, tal como Agostinho Neto” e muitos outros dirigentes de “coragem”.
Para o cantor a sua preocupação é manter sempre uma distância do poder
A conhecida voz angolana disse a um ouvinte que mantém a sua “jovialidade” e modo jovem de olhar o mundo pela estrita disciplina física e psicológica que segue, afirmando que isso se deve ao seu passado de atleta quando jovem.
Quanto à música angolana, Bonga considerou o seu nível actual de bom, tanto dentro como fora do país.
“A música angola está de boa saúde, embora as nossas tradições não sejam respeitadas como se devia”, revelou Bonga para quem, no período pós independência, houve um retrocesso na música angolana .
“A música ficou empobrecida por causa dos chavões revolucionários”, disse, reconhecendo que isso, no entanto, não foi um fenómeno apenas angolano.
A música, para o cantor, é sempre usada com a política, por isso, ele defende que os músicos mantenham a sua independência.
“Isso é triste mas nós sabemos quem são os ajudados pelas autoridades “, afirmou.
Bonga revelou estar a preparar um novo álbum, que ainda se encontra na fase inicial e, portanto, sem data para lançamento.