O Governo angolano tem uma “aversão patológica” aos direitos humanos, disse no programa “Angola Fala Só” o activista dos direitos humanos Ângelo Kapwatcha.
O também jurista revelou que dentro de 30 dias a organização de direitos humanos Fordu (Fórum de Desenvolvimento Universitário) vai publicar um extenso relatório sobre os confrontos no Monte Sumi em Abril de 2015 entre elementos da polícia e a seita A Luz do Mundo, liderada por José Julino Kalupeteka.
Kalupeteka encontra-se actualmente a ser julgado no Huambo, juntamente com outras 10 pessoas, acusado de diversos crimes entre os quais homicídio.
A polícia diz que nove polícias e 13 civis foram mortos nos confrontos mas Kapwatcha afirmou que a investigação conclui que centenas de pessoas terão morrido no local.
O relatório será divulgado após o fim do julgamento de Kalupeteka e inclui entrevistas com pessoas presentes no local dos confrontos, “algumas baleadas”, e familiares.
“Todas as pessoas dadas como desaparecidas neste momento estão na mesma lista e é um número muito elevado, à volta de centenas e centenas”, assegurou Kapwatcha, adiantando ainda que que os corpos de “algumas dessas pessoas desaparecidas” foram vistos por familiares ou membros da seita".
O activista disse que as investigações confirmaram que o Governo tinha tolerado A Luz do Mundo, existindo mesmo imagens do governador provincial com José Julino Kalupeteka e entidades do Executivo em eventos da seita.
No programa foram abordadas outras questões como a actual crise económica tendo Ângelo Kapwatcha afirmado ser “difícil encontrar um país próspero onde há corrupção e falta de transparência”.
“A crise é consequência de práticas económicas que incluem o nepotismo, o clientelismo, o esbanjamento e o consumo supérfluo”, acusou.
“O Governo não tem estratégias a médio e longo prazos para o para a economia”, acrescentou o convidado do programa, lembrando que a maior parte dos dirigentes é constituída por “poderosos empresários cujos activos são guardados fora do país”.
No que diz respeito ao sistema judicial, o activista disse “estar agarrado ao sistema politico” e que “não se consegue emancipar dele”.
Existem magistrados competentes que sabem da importância do primado da lei e da imparcialidade, diz Kapwatcha, para quem “na maior parte das vezes quando colocam em acção o manancial judicial que aprenderam para fazer andar o Estado de direito são conotados com a oposição, sofrem intimidações, sofre perseguições”.
Para o entrevistado do Angola Fala Só, o Estado angolano "tem uma versão patológica aos direitos humanos” e as autoridades acreditam que o papel do sistema judicial é “vigiar e punir”.