As autoridades provinciais do Huambo provavelmente mentiram ao Presidente da República sobre o que se passou no monte Sumi no Huambo em torno dos confrontos com a seita A Luz do Dia, disse o presidente da Casa-CE Abel Chivukuvuku.
Ao falar no programa Angola Fala Só, Chivukuvuku afirmou que os seguidores dessa seita são “fanáticos religiosos”, mas fez notar que há “fanáticos” nos diversos sectores da sociedade.
No caso da seita, disse, “o Governo preferiu a força”.
Chivukuvuku afirmou que, pelo que viu no local quando ali se deslocou, não pode haver dúvidas de que morreram “centenas e centenas de pessoas, na sua maioria mulheres e crianças”, embora tivesse frisado não ter “números concretos”.
Um ouvinte de Benguela disse aos microfones da VOA que ele próprio tinha perdido três familiares no local, incluindo o irmão e um cunhado, desconhecendo os seus paradeiros.
O dirigente da Casa-CE afirmou que, no encontro que manteve com o governador da província do Huambo para discutir os eventos, o governador Kundi Pahiama “disse-nos coisas que são mentiras”.
“Se o que nos informaram é o que informaram o Presidente estão a mentir”, denunciou, afirmando ainda que “se as autoridades quisessem ter resolvido o problema pacificamente poderiam tê-lo feito”.
Abel Chivukuvuku lamentou que o Presidente tivesse recusado um encontro para com ele discutir um relatório elaborado pela Casa-CE sobre o que viu no Huambo .
Esse relatório, disse, foi entregue à União Europeia, Estados Unidos e ONU.
Chivukuvuku lamentou ainda que o Presidente não se tenha solidarizado pessoalmente com uma deslocação ao Huambo com as famílias dos mortos “nem mesmo com as dos polícias” que morreram nos confrontos.
O presidente do terceiro maior partido no parlamento angolano revelou que no relatório que queria entregar ao Presidente da República o seu partido propõe uma investigação por pessoas independentes e idóneas, nacionais ou estrangeiras.
“É do interesse do Governo que qualquer um possa ir lá”, disse, para lembrar que “quem não deve não teme”.
No programa Angola Fala Só foram abordadas outras questões. Um ouvinte queixou-se da corrupção na polícia de trânsito ao longo da estrada entre o Huambo e Luanda com os agentes a exigirem dinheiro aos viajantes.
Para o líder da Casa-CE, o problema não pode ser visto através desse tipo de corrupção que descreveu de “endémica no país”, mas principalmente a "alta corrupção".
“As instituições e os altos dirigentes perderam a atitude moral”, acusou Chivukuvuku e lembrou que os agentes da polícia qe recorrem à corrupção porque eles próprios são vítimas de um sistema que os leva a isso.
Se houvesse um combate à corrupção ao mais alto nível esse tipo de pequena corrupção não existiria, disse Chivukuvuku que defendeu “bons salários” e um “rigor” no combate à ilegalidade.
Interrogado sobre a nova lei do registo eleitoral e da decisão da oposição de abandonar a sala do parlamento antes da votação, ele a considerou inconstitucional.
A oposição, segundo ele, tem agora que discutir o que vai fazer : "levar a questão ao tribunal Constitucional ou introduzir projectos de lei que vão tentar corrigir algumas normas”.
No que diz respeito ao último aumento dos preços de combustíveis, o líder da Casa-CE reconheceu que os preços dos combustíveis estavam distorcidos pelas subvenções pagas pelo Governo que resultaram no facto de os preços em Angola não obedecerem às leis do mercado.
“O problema é a metodologia (do Governo) em corrigir isso” disse.
“Não se impõe a solução em tempo de crise”, acrescentou, afirmando que isso deveria ter sido feito “ de forma dialogada e faseada”.
Abel Chivukuvuku foi mais longe e considerou que “os dirigentes do país não têm noção do que é Angola”.
Um ouvinte quis ouvir do entrevistado a sua opinião sobre o que ele considera ser “discriminação” em relação ao interior do pais. Chivukuvuku respondeu que, historicamente, tinha havido uma “litoralização” da economia angolana. "Devido à guerra e por culpa do Governo, o litoral foi beneficiado mais do que as outras províncias.
Ainda sobre este tema, no seu entender, a Casa-CE defende uma politica de “discriminação geográfica positiva”, em que as províncias do interior devem ser favorecidas para se reduzir as diferenças, por exemplo,através da concessão de salários mais altos para os funcionários que escolhem trabalhar nas províncias mais pobres.
Outro ouvinte quis saber se a criação da Casa-CE não contribuiu para a dispersão da oposição, tendo Abel Chivukuvuku lembrando que desde a abertura democrática o número de partidos políticos tem vindo a decrescer. "É provável que após as eleições de 2017 esse número seja ainda menor", advertiu.
Noutro momento, o presidente da coligação considerou que “Angola é um país em vias da democracia, em que alguns direitos e instituições são parte de qualquer Estado democrático, mas outros não.
A concluir, Chivukuvuku reiterou que estado de direitos não está garantido e que a administração publica continua a ser partidarizada.