“Os angolanos estão acorrentados à ditadura da fome” denunciou o porta-voz do Projecto Debate na Comunidade, Leonardo Ngola, na conversa com ouvintes e internautas durante o programa Angola Fala Só desta sexta-feira, 24.
Entre comentários e perguntas, o activista que se dedica a promover a importância das autarquias, defendeu, como a maioria dos participantes, que “as autarquias devem ser instaladas em todos os municípios porque assim impõe a Constituição”, embora Alcides Gayeta, do Namibe, tenha proposto que “a luta passe pela criação de condições de vida mínimas nos municípios antes da instalação das autarquias, caso contrário a pobreza continuará a imperar”.
Ele chegou a dizer que as autárquicas deviam ser criadas dentro de 10/15 anos, “depois de se potenciar os municípios porque todos estão num nível miserável de desenvolvimento”.
Num país “pobre de ricos e rico de pobres”, Leonardo Ngola considera que as autarquias são a saída para o fim desigualdade e da pobreza porque “todos os municípios têm potencialidades e necessitam desenvolver, mas tal só será possível com um poder local forte”.
Questionado por um ouvinte sobre os critérios que o Governo irá usar para escolher os municípios, Ngola classificou-os de “demoníacos” por apenas servirem a perpectuação do MPLA.
Para ele, "só as autarquias provocarão uma verdadeira separação de poderes em Angola".
Leonardo Ngola apontou que, além do “gradualismo geográfico” defendido pelo MPLA, a “tutela de mérito que vai obrigar o poder local a depender do Governo, transformando os autarcas em paus-mandado do Executivo.
Por isso, propõe Ngola, “a oposição deve unir-se e sair à rua para parar com este projecto do MPLA, caso contrário nenhuma autarquia será ganha pela oposição”.
O porta-voz do Projecto Debate na Comunidade denuncia o desconhecimento da população sobre o tema.
“A população não tem ideia do que são as autarquias, há um desconhecimento total”, assegura Ngola, que atribui essa realidade à “ditadura da fome”, para ele uma consequência da própria ditadura “que não trouxe nada a Angola”.
“As pessoas estão à procura de comida, de trabalho, de educação, de saúde, de medicamentos, de água, a lutar pela sobrevivência, como vão se preocupar com as autarquias, para tentar entender esse processo?”, questiona Leonardo Ngola.
Um internauta questionou essa interpretação, dizendo que as pessoas sabem sim e querem que o poder local seja instalado, tendo Ngola desafiado os participantes a começarem por perguntar “à mamá lá em casa se sabe o que são, ninguém sabe”.
O activista foi peremptório ao dizer que “o povo não pode contar com nenhum partido, mas apenas com o próprio povo” e defendeu manifestações e protestos contra o gradualismo e a tentativa do MPLA de condicionar este processo, “para manter a ditadura”.
Ngola alerta no entanto que “não podem ser manifestações de duas ou três que terminam com as pessoas a tomar uma cerveja, mas que se mantenham até que o objectivo seja alcançado”.