Vai ser difícil haver “uma metamorfose” no partido que governa Angola, disse Agostinho Sikatu, director do Centro de Debates e Estudos Académicos.
Ao falar no programa “Angola Fala Só”, nesta sexta-feira, 22, Sikatu defendeu por várias ocasiões a opinião de que o actual Governo não é fundamentalmente diferente daquele de José Eduardo dos Santos.
O analista sublinhou que o actual Presidente foi eleito como cabeça-de-lista do MPLA que apresentou o seu programa pelo que “não acredito que haja alguma mudança substancial”.
“João Lourenço tem a pressão da sociedade e tentou fazer algumas alterações mas teve que abrandar reformas porque João Lourenço foi escolhido por José Eduardo dos Santos”, disse.
“Santos sabe porque é que escolheu João Lourenço, nomeadamente para cumprir alguns dos seus interesses e fazer a transição dos interesses intra-partidários”, acrescentou.
Agostinho Sikatu afirmou que é mais provável haver mudanças depois das próximas eleições de 2022 quando João Lourenço voltar a candidatar-se e não estiver preso ao programa do MPLA que aceitou agora servir.
Noutra parte do programa, o analista rejeitou a afirmação de um ouvinte que disse que os angolanos devem ter “paciência” porque não se pode esperar mudanças de um dia para o outro já que os problemas a que Angola faz face são enormes.
"Os angolanos estão à espera há 42 anos", disse Sikatu, para quem os angolanos devem ser dos povos mais pacientes do mundo.
“Estão sempre a dizer ao angolano para esperar e o angolano está sempre à espera até o diz que morrer”, acrescentou.
Contudo, o director do Centro de Debates e Estudos Académicos disse ser “essencial afirmar que a sociedade despertou”.
Anteriormente, durante a governação de José Eduardo dos Santos, “ os jovens não diziam absolutamente nada, mas nesta altura os jovens vão se abrindo e o que anima é que as pessoas vão querendo fazer alguma coisa”.
“O medo vai desaparecendo, os jovens vão-se manifestando”, disse, recordando a manifestação em Malanje durante uma visita do vice-presidente.
No capítulo das autarquias, o analista rejeitou o conceito de gradualismo geográfico e considerou ser “uma injustiça” que “fere o princípio da igualdade”.
“A independência não foi feita de forma gradual e a democracia também não foi feita de forma gradual”, afirmou, mas alertou que não se deve colocar a enfâse na questão do gradualismo mas sim explicar o que são as autarquias.
Agostinho Siteko disse que, numa recente viagem por várias províncias, ficou claro para ele que muitos não sabem o que são as autarquias.
O diálogo continua a ser “a forma mais viável de se resolver questões” associadas com as eleições autárquicas.
Ao mesmo tempo, a oposição não deve “temer a maioria parlamentar do MPLA”, pois o partido que tem a maioria no Parlamento “não é o país”.
Interrogado sobre a questão de Cabinda e a pobreza que o território vive apesar de ser produtor de petróleo, Agostinho Sikatu disse estar convencido que as eleições autárquicas serão o meio de se resolver a questão do poder em Cabinda.
Mas avisou que a pobreza que se vive em Cabinda não é única porque, concluiu, “o sofrimento do povo angolano é universal”.