O Governo angolano disponibilizou, recentemente, mais de 80 mil milhões de kwanzas para um programa de mecanização da agricultura familiar, por via de crédito de multicultivadoras, visando aumentar os níveis de produção em grande escala.
O programa, com o apoio do Fundo de Apoio de Desenvolvimento Agrícola (FADA), está definido para decorrer de 2024 a 2026, sendo dirigido a agricultores familiares e cooperativas agrícolas.
Ajnda segundo o Governo, a iniciativa visa acelerar a produção em grande escala no sector que detém 82 por cento da produção nacional.
Huambo, Benguela, Kwanza Sul e Namibe são as províncias escolhidas para esta fase inicial.
Entretanto, alguns especialistas colocam algumas reservas e consideram haver aspetos que devem ser acautelados.
O engenheiro agrónomo e professor da Faculdade de Ciências Agrárias da Chianga, Agostinho Chivanja, diz que boa parte das iniciativas de apoio à produção nacional tem por base decisões tomadas em gabinetes sem uma consulta prévia aos atores do meio rural e, por isso, na maioria das vezes, os programas estão desajustados da realidade.
"Dar multicultivadoras aos camponeses impõe manutenção, combustível e outra assistência técnica", argumenta Chivanja, que antevê "perda de dinheiro".
Em relação à recorrente reclamação dos agricultuores sobre a falta de acesso ao crédito bancário, o especialista em desenvolvimento rural, Henriques Paiva, defende maior flexibilidade sob pena de não se alcançar o grupo para o qual o programa foi concebido.
"Temos de acabar com exigências que o camponês não dispõe", afirma Paiva, que destaca que "a mecanização agrícola pela sua eficácia e celeridade é fundamental para o desenvolvimento agrícola", mas sugere que as máquinas devem ser atribuídas a brigadas de mecanização competentes e, estas, por sua vez, prestarem serviços a crédito aos agricultores familiares, quer seja na modalidade crédito ou subvenção do Estado.
"Se quisermos aumentar a produção temos de usar máquinas", conclui.
Entretanto, na semana passada, no Bié, o Presidente João Lourenço apontou como caminho para garantir a segurança alimentar e combater a fome um maior engajamento dos homens do campo, não apenas por via de decretos presidenciais "como alguns sectores da sociedade fazem crer".
Dados do FADA indicam que até 2026, o programa prevê beneficiar mais mil e quinhentas cooperativas de famílias camponesas.
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