Planos do governo angolano para criar “escolas de referência” foram ásperamente criticados por entidades ligadas à educação como conducentes a maior discriminação no sistema educacional de Angola.
O governo vai lançar a sua segunda fase Projecto de Criação de Escolas de Referência (PCER), e de acordo com a ministra da educação Luísa Grilo, foram escolhidas 58 escolas de vários níveis e tipos do ensino público que vão beneficiar de tudo a que uma
escola moderna tem direito.
Escolas de referência serão uma espécie de escolas piloto que serão apetrechadas de meios materiais, técnicos, tecnológicos, em que os professores vão beneficiar de formação e actualização.
A ministra Luísa Grilo adiantou apenas que a fase inaugurada segunda feira 23 de Janeiro, tem como finalidade preparar, implementar, monitorar, avaliar os planos de promoção da qualidade das escolas.
O president do Movimento dos Estudantes Angolanos, MEA,, Francisco Teixeira diz que não
vão admitir o que chamam de tentativa de elitizar o ensino público.
"Com mais de cinco milhões de crianças fora do ensino, oitenta porcento das escolas sem carteiras e merenda escolar, dezanove mil salas de aulas debaixo de árvores, porquê criar um modelo elitista para a educação, quando a maioria da
população nem se quer tem acesso a essa educação?”, interrogou.
“Acho que o governo quer trazer para o ensino público uma classe A e duma classe B e isto nós não vamos aceitar, esta medida até viola a constituição que diz todos são iguais perante a lei”, acrescentou afirmando ainda que “o ministério ao invés disso quer privilegiar um determinado grupo de pessoas, todos vão querer ir para estas escolas e vão pagar se necessário para entrar numa escola de referência e, isto propicia a corrupção".
A medida também não agrada os professores filiados ao Sindicato Nacional dos Professores, SINPROF, e acordo com o seu secretário geral Admar Jinguma.
"Nós aqui gostamos muito de projectos pilotos, tudo é piloto! Esses projectos, nós já estamos fartos, cansados de coisas para dividir ainda mais a educação não pode embarcar nestas práticas que vai acabar por discriminar, onde um grupo reduzido de alunos vão para estas escolas e o grosso continuam nas escolas onde não há quase nada,"
O sindicalista acredita que no fim do dia este programa do executivo. "vai redundar num fiasco”.
“Não adianta nada vendermos ilusões quando a nossa base está tão roída, tão roída e nós a fingir que não existe”, disse.
“O presidente João Lourenço tem que ter coragem de aumentar o dinheiro para a educação e garantir fiscalização para que este dinheiro não caia em mãos de Chico-espertos", acrescentou.
O especialista em ciência da educação Rafael Aguiar traz várias interrogações, para perceber a medida do governo.
"Têm que nos explicar porquê não atacar primeiro lá onde as salas de aulas são só chapas, onde as crianças estudam debaixo de árvores, as crianças se sentam nas latas de leite, e vêm mais com estes projectos”, disse.
“Essa perspectiva de educação, paradigma de imposição, nunca ninguém acertou e está comprovado, para a nossa realidade vamos fazer mais escolas pilotos, para experimentar o quê que nós não sabemos?”, interrogou.
O projecto de escolas de referência contempla 11 escolas do ensino pré escolar e do ensino geral, trinta e cinco escolas técnico-profissional seis escolas de formação profissional e quatro escolas de magistério primário.
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