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Angola: escassez de profissionais na área da reabilitação física precisa de atenção e investimentos


Josias Justino Cambinja Chaves, fisioterapeuta e professor
Josias Justino Cambinja Chaves, fisioterapeuta e professor

No Huambo, há menos de um fisioterapeuta por 100 mil habitantes, afirma fisioterapeuta e professor Josias Chaves.

Segundo o censo realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em 2014, a província do Huambo tem 2.019.555 habitantes, sendo que 55.712 sofrem de algum tipo de deficiência física.

Josias Justino Cambinja Chaves, fisioterapeuta e professor
Josias Justino Cambinja Chaves, fisioterapeuta e professor

Em entrevista à Voz da América, o fisioterapeuta e professor Josias Justino Cambinja Chaves explicou que essas deficiências consistem de incapacidades, limitações e disfunções como as relacionadas aos acidentes de viação, lesões traumáticas causadas por acidentes de trabalho, lesões por esforço repetitivo.

Podemos citar ainda crianças com deficiências congénitas, indivíduos com doenças neurológicas, lesões em idosos, lesões desportivas e doenças reumáticas. Todas essas deficiências demonstram que a reabilitação no Huambo é uma área que requer atenção e investimento.

O fisioterapeuta lembrou que há um Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário (2012-2025) do Ministério da Saúde, o qual visa a melhorar a prestação de cuidados de saúde, mas no que toca ao número de profissionais da área de reabilitação muito ainda precisa ser feito, pois há escassez de fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e ortoprotesistas, entre outros.

“Por exemplo, a província do Huambo conta com 19 fisioterapeutas e isso dá um rácio de menos de um fisioterapeuta por 100 mil habitantes, que é um número muito baixo comparado com o de outros países”.

Se olharmos para alguns países europeus, vemos que a proporção de profissionais de fisioterapia por 100 mil habitantes é muito diferente. A Alemanha tem 225, Luxemburgo 198, Bélgica 188, França 88, Grécia 70 e Portugal 13.

“Hoje os 19 fisioterapeutas que nós temos aqui na província do Huambo não conseguem atender a grande demanda desse pessoal com deficiência física”.

Chaves sublinhou que uma parte do problema é a falta de instituições de ensino superior na província. Ele, por exemplo, fez licenciatura e especialização no Brasil e mestrado em Portugal.

Além dos poucos profissionais capacitados, essa carência de profissionais impossibilita a progressão nos vários graus académicos, científicos e de investigação na licenciatura, mestrado e doutoramento, argumenta Chaves.

“Há a necessidade de se aumentar a representatividade destas profissões nas diferentes estruturas estatais e privadas, não só em quantidade mas em qualidade de profissionais, que passa pela implementação de instituições que fomentem a formação como também a capacitação dos profissionais já formados”.

O alto número de deficientes físicos no Huambo não é apenas uma realidade dessa província, mas sim de todo o país, aponta o fisioterapeuta, que cita novamente o censo do INE para lembrar que há mais de 656 mil deficientes físicos em Angola.

Esse número elevado de pessoas com deficiência é consequência da guerra que começou no princípio dos anos 60 contra a colonização e continuou, após a independência, entre grupos rivais que não chegaram a um entendimento quanto ao futuro político de Angola. O país contou com alguns intervalos de paz, mas os confrontos militares só terminaram em 2002.

Chaves concluíu a entrevista deixando uma mensagem para as instituições governamentais e de ensino superior no Huambo. Ele disse que é preciso investir porque o Huambo precisa de muitos profissionais na área de reabilitação física.

"Se investirmos nisso poderemos dar uma melhor saúde para as pessoas com deficiência, maior acessibilidade e melhora na qualidade de vida porque não temos apenas essas pessoas com deficiência, mas outras com várias lesões".

Confira a entrevista

Entrevista com Josias Justino Cambinja Chaves
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