O secretário de estado angolano para os Recursos Minerais disse, sexta-feira, 15, que a solução do contencioso que Luanda tem com a multinacional russa dos diamantes, Alrosa, deverá ser encontrada através de uma decisão política.
"Essa é uma questão que já se sobrepõe às empresas. É uma questão meramente política, defendeu Jânio Correa, ressaltando, entretanto, que a solução a ser encontrada “para breve” não será necessariamente a saída de Angola da companhia russa, que integra a estrutura acionista da Sociedade Mineira da Catoca.
“Não estou a dizer que a Alrosa vai sair. Não disse isso. Eu disse que nós vamos encontrar uma solução política. Nós estamos a trabalhar numa questão política que vai salvaguardar os nossos interesses", sublinhou o governante.
Jânio Correa, que falava durante a apresentação das Realizações e Outlook sobre Produção, Comercialização e Exportação de Diamantes, admitiu ainda que o governo sabia que as sanções à Rússia - devido à guerra com a Ucrânia, reafirmadas nas últimas reuniões do G7 -, afetariam a Sociedade Mineira de Catoca, cuja estrutura acionista é integrada pela multinacional Alrosa.
Negociações prosseguem
O secretário de estado para os Recursos Minerais fez saber ainda que houve uma série de negociações com o país que detém a empresa em torno da retirada da companhia russa da mina de Catoca, visando defender os interesses de Angola.
“Nós, os angolanos, temos que defender o que é nosso. E foi com base nisso, na defesa do nosso interesse, que o executivo agiu”, sustentou o governante, para quem o país não pode permitir que a comercialização dos seus diamantes seja atingida pelas sanções devido à guerra na Ucrânia, o “que no fundo não nos diz respeito".
Em conversa com a Voz da América, o especialista em relações internacionais, Sebastião Vinte e Cinco, alerta que “qualquer solução adotada por Angola que não seja genuína pode gerar algum desconforto na relação que o país tem com o Ocidente”.
Vinte e Cinco entende que “seria uma solução arriscada para o Estado angolano tendo em conta que estaria a simular ou a contornar simplesmente o negócio para beneficiar o mesmo”.
Por sua vez, o analista político, Sérgio Calundungo, considera que só mesmo razões políticas podem forçar uma eventual saída da companhia russa de Angola, por entender que a Alrosa não violou qualquer legislação angolana ou contra o acordo que estabeleceu com o governo angolano.
“As sanções, sobretudo económicas, na maioria dos casos, são motivadas por questões políticas e esta é uma delas”, afirmou Calundungo.
Exigências da Alrosa e riscos para Angola
O semanário angolano Expansão avançou, recentemente, que o governo de Angola está a forçar a saída da Alrosa da Sociedade Mineira de Catoca, por ter-se tornado tóxica para a comercialização de diamantes angolanos devido às sanções internacionais à Rússia, mas a multinacional exige fechar contas para efetuar a saída da estrutura acionista da empresa mineira de Catoca.
As sanções às empresas e diamantes russos estão na base de muitos fornecedores importantes questionarem a parceria de Angola com a Alrosa por considerarem que Angola corre sérios riscos de perder o mercado europeu para a venda de diamantes.
Tudo porque, no início de março, a União Europeia ativou o sistema de rastreio à importação, aquisição ou transferência direta ou indireta de diamantes provenientes da Rússia.
Esta proibição aplica-se aos diamantes originários da Federação Russa, exportados da Rússia, em trânsito pela Rússia e aos diamantes russos quando transformados em países terceiros.
Tal como noticiou a Voz da América, o vice-ministro das Finanças da Rússia, Alexey Moiseev, disse existir “uma certa questão problemática nas relações com o governo de Angola”, mas acrescentou que essa “comoção” existe no contexto de negociações.
O vice-ministro russo reagia às notícias e declarações das autoridades angolanas sobre a necessidade da Alrosa abandonar a sociedade devido às dificuldades que a companhia mineira de Catoca está a encontrar com bancos e fornecedores, devido às sanções internacionais aplicadas à Rússia fruto da invasão da Ucrânia.
Moiseev, citado pela agência russa Interfax, disse que as duas partes continuam negociações com o objetivo de “assegurar o desenvolvimento progressivo de ativos locais”.
“Obviamente uma companhia que é alvo de sanções terá várias restrições no que diz respeito ao desenvolvimento desses ativos locais e isso preocupa a parte angolana”, afirmou o governante.
Sanções e a vontade de Luanda
Tal como a Voz da América informou anteriormente, as autoridades angolanas querem que a Alrosa abandone a sociedade mineira de Catoca onde a Alrosa detém 41% das ações, havendo, no entanto, um desacordo sobre como é que isso poderá ser feito.
Numa conferência de imprensa, na semana semana, o presidente do conselho de administração da Endiama, Ganga Junio, referiu que o bom desempenho e a credibilidade de Catoca dependem da saída da Alrosa.
Ganga Júnior revelou que as sanções contra os russos estão na base de muitos fornecedores importantes questionarem a parceria de Angola com a multinacional russa nos negócios dos diamantes, tanto é que, segundo afirmou, os principais fornecedores externos de Catoca e muitos bancos estão a recuar nos negócios por ter como sócia a companhia russa.
O vice-ministro das Finanças russo reagiu, afirmando ter havido “uma comoção não muito clara” sobre a questão.
“Temos na verdade uma certa questão problemática com o governo de Angola mas tudo isso existe no contexto de negociações”, disse Moiseev para quem “negociações muito ativas estão a desenrolar-se para ver como resolver a questão da melhor forma”.
O vice-ministro russo reconheceu que o mercado internacional de diamantes “atravessa um momento algo difícil”, acrescentando que as duas partes estão a abordar a questão “construtivamente”.
Representantes angolanos reuniram-se recentemente com uma delegação russa no Dubai, para discutir os termos da saída da Alrosa da sociedade mineira de Catoca.
Estados Unidos aumentam sanções
Os Estados Unidos apertaram as sanções à companhia de diamantes russa Alrosa que poderão causar mais problemas à indústria de diamantes de Angola.
A companhia russa é co-propietária da mina de Catoca (juntamente com a Endiama) e tem igualmente participação no projecto mineiro do Luaxi.
O Departamento do Tesouro americano colocou a Alrosa na sua lista de empresas sancionadas, “Specially Designated Nationals”, o que significa que, a partir de agora, companhias americanas estão proibidas de ter qualquer negócio com a companhia russa, que deixa também de poder efecuar qualquer transacção em dólares.
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