A três semanas do arranque do ano letivo 2023/24 em Angola, a luta por uma vaga no sistema de ensino, recentemente reportada pela Voz da América, constitui o dilema mais visível, mas as autoridades estão avisadas para a escassez de professores também como fator de exclusão escolar, tão preocupante quanto o défice de salas de aulas.
Sem ter atualizado ainda as necessidades do setor, o Ministério da Educação (MED) anunciou um concurso público para 11 mil professores, quando centenas de candidatos do último concurso voltam a lançar críticas e a exigir ingresso imediato.
O anúncio feito pela ministra da Educação, Rosa Grilo, na semana passada, despertou o chamado movimento nacional “Com Positiva Não se Reprova”, com integrantes que chegaram a ser detidos, na província de Benguela, quando tentavam um contacto com o Presidente João Lourenço, a quem pretendiam abordar o que chamam de injustiça.
O porta-voz deste grupo de pressão, Dinas Catope, que lamenta a existência de milhares de crianças sem educação, reforça que a luta dos mais de 8 mil candidatos excluídos vai continuar
“O Executivo sabe desse problema, até o tribunal, porque no dia da detenção dos colegas o senhor juiz disse que a ministra, ao prometer, criou uma expectativa jurídica. Não vamos parar, vamos continuar e exigir o enquadramento imediato, queremos que se cumpra com o prometido”, assinala Catope, lembrando que “são 8 mil almas, o Executivo não pode matar estas expectativas”.
Ao evocar a lei dos concursos públicos, a ministra Luísa Grilo, que anunciou a admissão de professores num seminário sobre o ensino de Matemática e Língua Portuguesa, já fez saber que os candidatos excluídos deverão novamente submeter-se a exames.
O secretário-geral do Sindicato Nacional dos Professores (SINPROF), Admar Jinguma, disse à Voz da América que, a par desta polémica, a sua organização chegou a dar conselhos ao Ministério da Educação na altura do concurso.
“Fizeram o inverso, chegando mesmo a fazer promessas. Foi uma espécie de propaganda porque quiseram politizar o concurso, estamos em vésperas das eleições e o resultado é este. Temos de olhar para isto e dar resposta, nós somos apenas um órgão de pressão e colaboração, a principal tarefa é com os que já estão no sistema”, refere o sindicalista.
À entrada do último ano letivo, Angola, segundo dados oficiais, precisava de 60 mil professores, cifra quase seis vezes superior às admissões no anunciado concurso.
A situação é tão preocupante que levou, por exemplo, o governador da Huíla, Nuno Bernabé Mahapi, a lançar avisos ao Presidente João Lourenço
“Por isso, senhor Presidente, acho que devíamos refletir juntos, o número de crianças fora do sistema é muito alto, isto preocupa quem governa. Não nos sentimos felizes por saber que muitas crianças não estudam por falta de professores e de salas de aulas”, indicou o governante.
De acordo com dados do anterior ano letivo, o número de crianças que não estudam foi superior a três milhões.
Fórum