Altos custos de produção, falta de apoio tecnológico e entraves burocráticos impedem Angola de alcançar a autossuficiência na produção de cereais como almejado, dizem produtores.
Entre os cereais que Angola produz destacam-se a soja, o milho e o trigo, com maior incidência para o milho que serve de principal alimento da maioria das regiões em Angola e ainda serve de principal ingrediente para a ração alimentar de animais.
Produtores de cereais do país contactados pela VOA foram unânimes em afirmar que faltam apoios sobretudo de conhecimento e tecnológico, para alavancar o setor.
Pedro Agostinho produz milho e soja no Huambo mas considera que
grande maioria dos produtores faz isso quase só para comer, de tantas dificuldades que enfrentam.
"A produção de cereais vai depender necessariamente dos adubos, hoje um saco custa 50 mil kz (mais de 50 dólares) isto é sonho pra nós que estamos ali dentro”, disse.
“Os camponeses não aguentam com estas cifras, produzem apenas para não passarem a noite com fome", acrescentou.
O agricultor do planalto central diz que os custos inerentes à produção de cereais no país são muito altos, acrescidos da burocracia no tratamento da papelada das terras faz com que muitos desistam e passem as suas terras, para estrangeiros com melhores condições.
"É muita dor de cabeça, o documento passa pelo soba, pelas administrações comunal e municipal, vai para o IGCA, entra no governo provincial, volta para o IGCA, vai para a agricultura, as vezes fica no governo 4,5 meses e não é assinado, só para se obter o titulo de terra”, afirmou.
“Daqui a nada estamos a passar as nossas terras para os chineses ja que eles têm tecnologia e dinheiro.", acrescentou.
Rui Magalhães que se dedicava a produção de milho em Benguela, cedo desistiu.
O produtor conta que os desafios são tantos que "não vale a pena estar a produzir com o grau de dificuldades muito alto, com muita incerteza e depois não tirar nada, então tive que parar."
O produtor na zona da Ganda diz que falta apoio do estado, para incentivar os produtores de cereais como laboratórios simples, serviços de meteorologia e definir determinadas práticas, e auxiliar os produtores no campo.
Rui Magalhães explica a necessidade de bons serviços meteorológicos porque “muitos agricultores só conseguem trabalhar com água das chuvas”.
O agricultor do Huambo diz que o executivo olha para a agricultura como o parente pobre.
"Os verdadeiros agricultores, os verdadeiros camponeses não são tidos nem achados, gostaria que o estado olhasse para os verdadeiros agricultores e não para os que chamo de turistas políticos que se fazem passar por agricultores, para abocanhar os créditos bancários”, disse.
O ministro da agricultura e florestas António Assis diz reconhecer que em termos de produção de cereais em Angola ainda deixa muito a desejar.
"Nós estamos (a produzir) a volta de três milhões e meio de toneladas de produção de milho e nós precisamos produzir 10 milhões e meio de toneladas, para estarmos entre os grandes produtores de África.", afirmou.
O titular da pasta da agricultura considera que se está a registar alguns avanços, apesar de não ser ainda o ideal mas é um passo.
"Temos escutado vozes dizendo que não está bom, mas para nós o setor está bom demos um salto significativo”, disse.
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